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Índice desta página:
Nota: Cada seção contém Comentário, Leituras, Homilia do Diácono José da Cruz e Homilias e Comentário Exegético (ou Estudo Bíblico) extraído do site Presbíteros.com

. Evangelho de 11/05/2014 - 4º Domingo de Páscoa
. Evangelho de 04/05/2014 - 3º Domingo de Páscoa


Acostume-se a ler a Bíblia! Pegue-a agora para ver os trechos citados. Se você não sabe interpretar os livros, capítulos e versículos, acesse a página "A BÍBLIA COMENTADA" no menu ao lado.

Aqui nesta página, você pode ver as Leituras da Liturgia dos Domingos, colocando o cursor sobre os textos em azul. A Liturgia Diária está na página EVANGELHO DO DIA no menu ao lado.
BOA LEITURA! FIQUE COM DEUS!

O PESO DE NOSSA CRUZ!
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11.05.2014
4º DOMINGO DE PÁSCOA — ANO A
( BRANCO, GLÓRIA, CREIO – IV SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Eu sou a porta" __

EVANGELHO DOMINICAL EM DESTAQUE

APRESENTAÇÃO ESPECIAL DA LITURGIA DESTE DOMINGO
FEITA PELA NOSSA IRMÃ MARINEVES JESUS DE LIMA
VÍDEO NO YOUTUBE
APRESENTAÇÃO POWERPOINT

Clique aqui para ver ou baixar o PPS.

(antes de clicar - desligue o som desta página clicando no player acima do menu à direita)

NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.

Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Todos os anos, no quarto Domingo da Páscoa lemos o Evangelho do Bom Pastor, cada ano um trecho diferente. Celebramos, também, neste quarto Domingo da Páscoa, o dia mundial de oração pelas vocações. Jesus é, ao mesmo tempo, o Bom Pastor e a única porta por onde as ovelhas entram e saem com segurança. Somos chamados a ouvir e a seguir os passos do Bom Pastor que nos conduz pelos caminhos da vida e da salvação. A missão do Bom Pastor é trazer vida plena às ovelhas do seu rebanho; as ovelhas, por sua vez, são convidadas a escutar o Pastor, a acolher a sua proposta e a segui-lo. É dessa forma que encontrarão a vida em plenitude. Vivendo esta liturgia na alegria da vocação e do nosso compromisso de povo vocacional, queremos rezar incessantemente para que o Senhor continue chamando muitos ao seu seguimento, e que estes sejam disponíveis e generosos em sua resposta.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Diante do Bom Pastor, rezemos pelas vocações sacerdotais e religiosas. Embora todas as vocações cristãs tenham intrinsecamente o caráter missionário, as vocações sacerdotais e religiosas têm o perfil eclesial de ser a porta aberta por onde todos são acolhidos pelo Bom Pastor.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A figura do pastor que guia suas ovelhas era familiar a Israel, povo nômade; alimentou em tempos sucessivos a meditação religiosa das relações pessoais com Deus. Seus chefes deviam ser servos do único pastor; mas, com muita freqüência, seguindo interesses egoístas e perspectivas políticas errôneas, trairam, desviaram, depredaram o rebanho de Deus. Jesus se apresenta como o pastor segundo o coração de Deus, aquele que foi anunciado pelos profetas. Conhece intimamente o Pai e transmite esse conhecimento aos seus (evangelho). Por isto, ele é a "porta", o mediador. Conhece intimamente também a nossa condição, porque como "cordeiro" carregou os pecados de todos nós (2ª leitura). Conduz os seus com a autoridade de quem ama e deu sua vida: e eles, na fé, escutam a sua voz e seguem suas pegadas. Seu sacrifício "pela multidão" exclui qualquer privilégio e abre a salvação a todos os homens.

Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, cantemos cânticos jubilosos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (At 2,14.36-41): - "E vós recebereis o dom do Espírito Santo."

SALMO RESPONSORIAL (22/23): - "O Senhor é o pastor que me conduz; Para as águas repousantes me encaminha."

SEGUNDA LEITURA (1Pd 2,20b-25): - "Se suportais com paciência aquilo que sofreis por ter feito o bem, isto vos torna agradáveis diante de Deus."

EVANGELHO (Jo 10,1-10): - "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância!"



Homilia do Diácono José da Cruz – 4º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A

"UM ESTRANHO NO REDIL"

Eu achava estranho esse evangelho do Bom Pastor no tempo pascal, parece que interrompem-se bruscamente  as narrativas das famosas aparições de Jesus Ressuscitado ao discípulos , tão cheias de mistério e encanto, para falar de um assunto que não tem nada a ver, mencionando palavras repetitivas como redil, porta, pastor, ovelhas....E alguns adjetivos como, estranho, ladrão, assaltante, que nos faz imediatamente pensar nos outros, naqueles que são de fora do rebanho, nos que hostilizam a Igreja e o Reino de Deus, são esses que devemos ter cuidado, mas não ! Jesus fala com os de “dentro”, ou seja, com a comunidade, e aqui precisamos tomar muito cuidado, para não nos julgarmos como membros exclusivos de um Rebanho de qualidade superior a todos os demais, os “queridinhos e prediletos” de Deus.

E uma boa chave de leitura aparece logo no início do evangelho: Jesus é a Porta!Para entrar no Redil, para fazer parte da comunidade da Igreja, só há uma porta: Jesus Cristo, é ele que no dia do nosso Batismo nos introduz na comunidade. Não posso ser  Cristão por razões ideológicas, ou para sentir-me bem com a minha consciência, vivendo em paz, sem preocupações nesta vida. Não posso tão pouco participar da comunidade e das celebrações apenas por preceito, pois existe aí o perigo dos nossos interesses falarem mais alto, conheci dois casos diferentes, em um deles, porque mudaram as músicas que vinham sendo cantadas, um instrumentista enfiou o violão no saco e saiu pisando duro, dizendo que nunca mais botaria os pés na igreja, e conheci um acordeonista, que ao contrário, começando a tocar em celebrações sertanejas, tornou-se um membro ativo da comunidade e tomou gosto pela vida em comunhão, ai está a grande diferença entre, ser freqüentador da comunidade, e ser um Seguidor de Jesus de Nazaré. Quem tornou-se cristão por causa de Jesus, após ter feito com ele uma experiência profunda de Vida em comunhão,  passou pela Porta, mas aqueles que são meros freqüentadores, e não fizeram ainda essa experiência querigmática com o Senhor, são os que pularam a janela, entraram as escondidas pelos fundos, e quando chega a crise, esses mercenários  são os primeiros a darem no pé, porque sentem que vão perder algo.

Mudam de igreja, de comunidade, de paróquia, de grupo, e nunca se encontram, há os que mudam até de família, passam a vida procurando a perfeição do cristianismo, e não encontrando acabam caindo no desânimo e frustração descobrindo mais tarde,  que quem tinha de mudar eram eles, e não as pessoas.

Quando nossos interesses falam mais alto que as coisas do Reino de Deus, nos tornamos estranhos no ninho, ladrões e assaltantes, porque roubamos o espaço e o tempo da assembléia, das pastorais e movimentos, só para vender nossa imagem fazendo o nosso marketing pessoal. Tornamo-nos estranhos ao rebanho porque a nossa conduta e procedimento, e o  jeito de pensar, não reflete de forma alguma o santo evangelho, a vida de comunhão ou a koinonia como diz o termo grego.

Ao contrário, quem passa pela Porta que é Jesus Cristo, torna-se também um pastor, aquele que cuida, mostra o caminho, socorre os fracos e feridos, que na comunidade são tantos, e se for preciso, carregam no colo as ovelhinhas que não podem caminhar, exatamente como faz esse Bom Pastor que é Jesus Cristo. As ovelhas o seguem, porque ouvem e conhecem sua voz, ou seja, a relação com ele é marcada por uma grande intimidade, de quem conhece a voz, isso é, a Palavra de Deus, e que por isso se torna um discípulo.

Claro que o evangelho desse 4º Domingo da Páscoa, fala forte no coração dos jovens despertando uma possível vocação, projetando esse pastoreio na Vocação Sacerdotal, mas é preciso essa compreensão mais ampla de que somos todos ovelhas e pastores, somos cuidados mas também somos cuidadores, em um amor co responsável, que vai ao encontro do outro porque  o aceita como irmão no Senhor Jesus.

E há na segunda leitura dessa liturgia, uma afirmação do apóstolo Pedro, que reforça essa comunhão de vida: Carregou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que , mortos aos nossos pecados vivamos para a Justiça.

Ser comunidade é carregar o outro em nossa vida, com todos os seus pecados e defeitos, fazer isso por puro amor, amor que aceita, que compreende, que perdoa sempre e é misericordioso, pois carregar o outro com seus carismas e perfeições, não requer nenhum sacrifício e é até agradável.A exemplo de Jesus, Nosso Deus e Senhor, sejamos todos pastores e que aprendamos a amar a todos, mesmo os “estranhos” do Redil, pois o amor poderá salvá-los, levando-os a uma experiência sincera com Jesus.

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 4º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A

Amor de predileção pelos sacerdotes

Estamos no mês mariano. Durante este mês é importante que não nos esqueçamos de pedir à Mãe de Jesus que cuide dos sacerdotes. Cada padre, desde que João foi confiado a Maria, é seu filho predileto. Ela os ama de maneira muito especial.

O amor é necessariamente desigual. Não se pode pedir a uma mãe que ame com a mesa intensidade tanto os filhos que saíram das suas entranhas quanto aos estrangeiros que ela apenas teria saudado alguma vez. Não se pode pedir a um marido que a todas as mulheres por igual. Tampouco se pode exigir ao cristão amar a todos os seres humanos por igual. A caridade é ordenada e, por isso mesmo, justamente desigual. É lógico que amemos mais intensamente os nossos irmãos na fé, especialmente aqueles que convivem conosco; é totalmente normal que amemos mais fortemente os nossos familiares, especialmente os nossos pais; não há nada de estranho que amemos mais os nossos amigos que os nossos inimigos, ainda que devamos amar também aos inimigos.

Maria ama com predileção os sacerdotes do seu filho porque Jesus os confiou a ela enquanto sofria na cruz para a nossa salvação. Nossa Senhora não pôde esquecer jamais aquela cena. As últimas vontades de um moribundo, especialmente quando esse moribundo é o Filho de Deus, ficam gravadas na mente de uma maneira indelével. As últimas coisas que um filho pede a uma mãe ficam presentes para sempre na memória materna. Com Nossa Senhora não foi diferente: o desejo de Jesus permaneceu sempre presente no seu coração e ela tem cuidado dos sacerdotes com amor de predileção até hoje.

Gosto de pensar na figura de João. É o típico rapaz valioso e de pouca idade que decide entregar-se de corpo e alma a uma causa maior. João entregou tudo o que era seu aos cuidados de Jesus. João era jovem, tinha um coração puro, era um rapaz vigoroso, um jovenzinho de caráter forte, um coração grande e generoso. Eu não estou de acordo quando se escuta por aí que o vocacionado ao sacerdócio tem que fazer primeiro uma experiência de namoro antes de entrar no seminário. Aqueles que tiveram uma experiência desse tipo não são melhores nem piores do que aqueles que não a tiveram. No entanto, não posso deixar de elogiar a entrega total daqueles que, sem dividir o coração em nenhum momento, se entregaram totalmente a Cristo. Isso é maravilhoso!

Por outro lado, Jesus tem direito de escolher os seus ministros tanto entre os que mantiveram uma vida irrepreensível como o apóstolo João e o discípulo amado de Paulo, Timóteo; como entre aqueles que foram grandes pecadores, como Pedro, Paulo, Agostinho, etc. A todos esses o Senhor confiou a missão de ser pastores da sua grei.

No trecho do Evangelho de hoje, a palavra “porta” aparece quatro vezes. Jesus é a porta! Ou seja, o acesso a Deus, à felicidade, a uma vida verdadeiramente humana, é possível somente através de Cristo. Outras vozes, outras portas, outros pastores não conduzem à vida em abundância que só Jesus tem para dar-nos. Assim como Jesus é a porta das ovelhas, o sacerdote –agindo na Pessoa de Cristo cabeça e em nome da Igreja– também é porta.

Esse é um critério importante para pastores e ovelhas. O sacerdote tem que ser pastor no Pastor. Ele não pode pregar uma doutrina diferente da de Jesus. Se o padre pregasse algo diferente do Evangelho, ele estaria fazendo ressoar uma voz que as ovelhas não seguiriam porque elas não reconhecem nesse tipo de pregação a voz de Cristo, Pastor das suas almas. Nós, os sacerdotes, somos instrumentos do único Pastor. Chamam-nos pastores, e o somos, porque participamos no pastoreio de Jesus. Quando anunciamos a Palavra e quando celebramos os Sacramentos não somos nós, é Cristo em nós. Somos o mesmo Cristo, estamos identificados com ele. Que absurdo, portanto, pregar algo diferente do Evangelho! Que contrassenso pregar uma doutrina que não seja a doutrina católica, tanto em questões de fé quanto em questões de moral.

Os fiéis de Cristo têm direito a escutar a voz de Cristo através dos seus sacerdotes. Os ministros do Senhor foram ordenados para isso. Os fiéis podem e devem exigir deles o Cristo. Os demais cristãos não podem tolerar uma doutrina que não seja a do Divino Pastor e a da sua Esposa, a Igreja, vinda da boca de um sacerdote. Se tal coisa se desse, os fiéis deveriam, justamente, manifestar-se –mas com cuidado para não faltar à caridade– e pedir o que eles desejam: Jesus Cristo, sua palavra santa, os seus sacramentos.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético — 4º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (1Pd 2, 20-25)

VERDADEIRO MÉRITO: Qual pois mérito (há) se pecando e esbofeteados, aguentais? Mas, se fazendo o bem e padecendo, aguentais, isto (é) agradável para Deus (20). Quae enim gloria est si peccantes et colaphizati suffertis sed si benefacientes et patientes sustinetis haec est gratia apud Deum. MÉRITO [kleos<2811>=glória] rumor, fama, glória, louvor, aplauso que temos traduzido por mérito como mais inteligível e até mais apropriado. Este vocábulo sai unicamente. Ele é um apax neste versículo. ESBOFETEADOS [kolafizomenoi<2852>=colaphizati] é o particípio passivo do presente do verbo kolafizö que significa esbofetear, receber um tapa, bater com o punho, golpear. Também maltratar, tratar com violência e desprezo. É o que aconteceu com Jesus segundo Mt 26, 67 e Mc 14, 65 na casa de Caifás, onde foi esbofeteado e cuspido pelos escudeiros do Sumo Pontífice. AGUENTAIS [ypomeneite<5278>=sustinetis] do verbo ypomenö, com o significado de permanecer, perseverar, não retroceder, aguentar, resistir, suportar e tolerar, especialmente se são tratamentos e condutas impróprias e vexames. AGRADÁVEL [charis<3844>=gratia] com o significado de ser coisa agradável a Deus é uma das traduções, a mais seguida; mas também e talvez com maior propriedade podemos traduzir por é uma mercê de Deus. A natureza humana se revolta contra toda a injustiça; porém fazer todo o contrário, suportar as injúrias injustas é um dom de Deus, como sugere o para [<3844>=apud] preposição de procedência, com genitivo, ou seja que procede de Deus. Ou seja, traduziremos isto é um dom que de Deus procede.

EXEMPLO DE CRISTO: Pois para isso fostes chamados, porque também Cristo padeceu por vós, a vós deixando um exemplo para que sigais nos seus passos (21). In hoc enim vocati estis quia et Christus passus est pro vobis vobis relinquens exemplum ut sequamini vestigia eius. FOSTES CHAMADOS [eklëthëte<2564>=vocatiestis] aoristo do verbo kaleö com o significado de chamar, convidar, que é uma vocação divina para imitar o exemplo de Cristo como afirmará mais tarde. Do versículo anterior, sabemos que são os planos divinos os que acompanham os sofrimentos injustos e que dentro deles agora o apóstolo toma como exemplar a conduta de Cristo. PADECEU [epathen<3958>=passus est] aoristo de paschö, é o verbo usado por Jesus para indicar os padecimentos a que seria submetido pelos juízes do Sinédrio (Mt 16, 21 e Mc 8, 31). O por vós é em grego yper ëmön [por nós] segundo o grego da Nestlé. A Vulgata e o grego católico de Mark usam o nós, como se Pedro se incluísse dentro dos remidos por Cristo. Do ponto de vista lógico da frase o vós é o mais correto. Com esta afirmação Pedro supõe a morte vicária de Cristo, pois o yper grego significa em favor de, por amor de, pelo benefício de, no lugar de, em vez de como genitivo [no caso].Um exemplo: em 1 Cor 15, 19 Paulo fala do caso em que os novos cristãos se batizavam yper nekrön [= no lugar dos mortos]. Com isto Pedro reforça o dogma da morte vicária de Cristo, que hoje alguns teólogos criticam como sendo metáfora, pois negam a justiça divina ao exaltar em demasia a bondade de um Pai demasiado indulgente. Citam a parábola do filho pródigo, mas esquecem outras passagens do evangelho em que o fogo eterno é claramente afirmado para os que praticam a iniquidade, com a mesma rejeição de quem separa os que estão à sua esquerda para o fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos (Mt 7, 23 e 25, 41). EXEMPLO [ypogrammon <5261> =exemplum] com o significado de uma cópia escrita e logicamente um exemplo. SIGAIS [epalolouthësëte<1872>=sequamini] o verbo é usado por Marcos quando diz que o Senhor cooperava com os pregadores do evangelho confirmando a palavra com os sinais que se seguiram (Mc 16, 20). PASSOS [ichnos<2487>=vestigia] pegada, pisada, passo geralmente em plural, como vemos no latim. Evidentemente o apóstolo refere-se aos sofrimentos dos primeiros cristãos, na época, perseguidos e caluniados em cujas vicissitudes ele observa que estão seguindo os passos do seu senhor como este já tinha profetizado (Lc 21, 12) de modo que o discípulo não seja diferente de seu Mestre (Mt 10, 34-25).

INOCÊNCIA DE CRISTO: O qual pecado não fez, nem se encontrou engano na sua boca (22). Qui peccatum non fecit nec inventus est dolus in ore ipsius. O qual insultado, não revidava o insulto, sofrendo não ameaçava, mas entregava-se ao que julga justamente (23). Qui cum malediceretur non maledicebat cum pateretur non comminabatur tradebat autem iudicanti se iniuste. Pedro expõe agora a inocência de Jesus com duas ideias: não cometeu pecado em obras e não houve mentira em sua boca. Consequentemente foi um inocente, injustamente castigado com atrozes tormentos e morte de cruz. Este é o exemplo que devem imitar seus discípulos e seguidores. ENGANO [dolos<1388>=dolus] propriamente isca, tentação, engodo e daí astúcia, engano, falsidade, fraude, dolo. Pedro coincide com Tiago que afirma: se alguém entre vós cuida ser religioso e não refreia sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã (1 Pd 2, 22). Pedro apela ao exemplo de Cristo, especialmente durante o tempo de sua paixão. Jesus não revidou aos insultos como vemos em Mt 26, 62-63, durante o julgamento na casa de Caifás ou no pátio de Pilatos em Mt 27, 28-30 e no momento da crucifixão os insultos narrados por Mateus em 27, 39-44. Por isso, Jesus entregou sua causa a Deus, o verdadeiro juiz que julga corretamente.

CRISTO NOS SALVOU POR SUAS CHAGAS: O qual nossos pecados ele carregou no seu corpo sobre o madeiro para que mortos aos pecados vivamos na justiça, o qual pela chaga fostes curados (24). Qui peccata nostra ipse pertulit in corpore suo super lignum ut peccatis mortui iustitiae viveremus cuius livore sanati estis. CARREGOU [anëneyken<399>=pertulit] é o aoristo do verbo anaferö com o significado de oferecer no altar, liderar, carregar, suster. Com esta frase Pedro confirma o dito pela carta aos Hebreus 7, 27: Não necessitou diariamente, como os sumos sacerdotes, de oferecer <399> cada dia por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez uma vez, oferecendo-se <399>a si mesmo. E em Hebreus 9, 28: Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar [<339>] os pecados de muitos. Porque como diz Paulo: Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus (2Cor 5, 21). Disso tudo, podemos deduzir que a morte de Cristo na cruz foi um sacrifício expiatório, como também Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave (Ef 5, 2). PELA CHAGA [mölöps<3468>=livor] o grego indica mancha roxa, contusão, vergão, vinco e pancada. Sem dúvida que aqui Pedro une a flagelação ao suplício da cruz, podendo ser traduzida a passagem: pelas suas feridas fomos curados. De modo que a maldição da cruz, como diz Paulo, serviu para a bênção dos que outrora eram malditos; a morte para a vida e as feridas para a saúde. Assim se cumpriu o que Paulo afirma: Deus escolheu a loucura do mundo para a mais sábia solução de salvação e vida do pecador (ver 1Cor 1, 25).

O NOVO PASTOR: Éreis, pois, como ovelhas desgarradas, mas agora vos mudastes para o pastor e supervisor de vossas almas (25). Eratis enim sicut oves errantes sed conversi estis nunc ad pastorem et episcopum animarum vestrarum. De uma vida como sem esperança nem futuro, agora remidos por Cristo pertencem os novos cristãos a um pastor que é ao mesmo tempo supervisor [episcopos] que cuida amorosamente dessas almas ou vidas que ele conseguiu por sua cruz e por seus sofrimentos. Pois demonstrou que era o bom pastor que dá sua vida por suas ovelhas.

EVANGELHO (Jo 10, 1-10)
JESUS, A PORTA DO APRISCO

INTRODUÇÃO: Este é o domingo chamado do Bom Pastor, festa que é comemorada em todos os três anos litúrgicos. Além de ser o autêntico [melhor tradução do Kalos grego] pastor, Jesus também se declara como a porta pela qual entra todo pastor legítimo e, através da qual, o acompanhando, saem suas ovelhas. Porta, pastor e ovelhas constituem termos de uma alegoria em que a voz do pastor é ouvida pelas suas ovelhas e encontram os prados de modo que tenham vida abundante. Esta alegoria do Bom Pastor é única do quarto evangelho que não encontra lugar paralelo entre os sinóticos. Jesus falará em Mateus e Marcos, como viu as multidões que eram como ovelhas sem pastor (Mt 9, 36 ) e afirmará que, ferido o pastor, as ovelhas serão dispersadas (Mt 26, 31). São estas duas passagens as que indiretamente declaram Jesus como pastor de Israel. Mas, é na perícope atual, de uma beleza extraordinária, a que nos mostra, primeiro, Jesus como a porta para indicar que qualquer outra maneira de entrar no aprisco é sub-reptícia. Logo, na segunda parte, falará que ele é também o verdadeiro pastor. Nesta primeira parte, vamos falar de Jesus como porta. Antes de entrar na exegese do evangelho é oportuno e até necessário, observar as circunstâncias nas quais essa alegoria foi proclamada por Jesus. Jesus estava em Jerusalém, no templo, rodeado por fariseus que eram os mestres de Israel. Após a cura do cego de nascença, Jesus disse uma frase que incomodou os fariseus: vim para os que não veem vejam, e os que veem tornem-se cegos (9, 39). Jesus então está a afirmar uma coisa inaudita: Ele é a porta por onde deve entrar quem se considera pastor de Israel. Esta é a base do evangelho de hoje.

UMA AFIRMAÇÃO INUSITADA: Amém, amém, vos digo: quem não entra pela porta ao aprisco das ovelhas, mas pula por outra parte , esse é ladrão e bandido (1). Amen amen dico vobis qui non intrat per ostium in ovile ovium sed ascendit aliunde ille fur est et latro. AMÉM, AMÉM: A palavra é de origem hebraica, traduzida por verdadeiramente na totalidade dos casos, ou deixada no original em outros. O Amém hebraico está relacionado com o verbo amam [crer ou ser fiel], e significa certamente, ou verdadeiramente. A tradução literal é: firmemente, fielmente, certamente, seguramente. Por isso, Deus mesmo é chamado AMÉM por ser fiel e veraz (Is 66, 16). 1) No princípio de um discurso, seria traduzido por com certeza. 2) No fim do mesmo, por assim será. Entre os judeus: Era costume entre os judeus, retomado pelos cristãos, que no fim de maldições solenes (Nm 5, 22), ou após orações e hinos de bênção e louvor (1Cr 16, 36 e Sl 41, 14), ou, terminado um discurso ou juramento (Jr 11,5), os assistentes respondessem Amém, como aceitando a substância do mesmo. Em Jesus, testemunha fidedigna e veraz e Amém de Deus (2 Cor 1, 19-20), o termo equivale a uma afirmação solene e inquestionável. Ele emprega o amém na frase Amen lego Ymin antes de uma afirmação solene e dogmática. Desta forma é usado 30 vezes em Mateus, 12 em Marcos e 7 em Lucas. Unicamente encontramos em Mateus o amém no fim, quando após o Pai Nosso diz: Teu o reino, o Poder e a glória pelos séculos. Amém (6, 13). O seu uso ao início de uma afirmação é duplo em João: Amém , amém e aparece 24 vezes. Uma delas é esta de hoje. O Amém final repetido somente aparece duas vezes nos salmos: 41, 14 e 72, 19. Fora disso aparece repetido em Nm 5, 22., com o significado de genoito, genoito [seja, seja] grego nos três casos. Em todos os casos, significa verdadeiramente, de fato, como um assentimento ao afirmado anteriormente. Unicamente em Is 65, 16 o amém significa verdadeiro, pois se fala do Deus do Amém, ou seja, o Deus da Verdade, que cumpre sua palavra como traduz a vulgata: abençoar e jurar in Dio Amen. Na Nova Vulgata o texto será: Quicumque benedicit sibi in terra, benedicet sibi in Deo Amem, et quicumque iurat in Deo in terra iurabit in Deo Amem. Daí que o Amém tenha o sentido de verdade, de compromisso com a palavra própria e que em João, ao ser repetitiva, indica um superlativo, à semelhança de como aclamamos Santo, Santo, Santo é o Senhor (Is 6, 3). No NT, entre os escritos apostólicos, o Amém tem o significado de termo de oração ou de bênção, acrescentado para proclamar a adesão ao mesmo com o sentido de assim seja ou desejamos, como no caso de Rm 1, 25 Criador que é bendito pelos séculos. Amém. No nosso caso, parece um superlativo de verdadeiramente, ou o equivalente de com toda segurança e garantia, eu posso afirmar. É, pois, uma asseveração solene de Jesus na qual ele aposta, na verdade de que Ele é a Palavra de Deus. O PORTÃO: Thyra é a palavra usada pelo evangelista. A palavra pode indicar a porta da habitação de uma casa, como em Mt 6, 6: Fecha a porta de tua habitação; a porta de um sepulcro em Mt 27, 60; a porta de uma casa Mc 2, 2 onde Jesus morava; o portão da cidade Mc 1, 33, assim como o portão de um aprisco Jo 10 1. OVELHAS: A palavra probaton [probaton] no seu sentido mais lato denotava todos os animais de quatro patas [especialmente os domesticados] em oposição aos que nadavam ou rastejavam. Derivada a palavra de pro-baino = ir adiante, nos rebanhos mistos, era o gado miúdo [ovelhas e cabras] que por serem mais fracos que os outros animais iam à frente, marcando o passo. Originariamente, a palavra se empregava no plural, com o significado de rebanho ou manada. Mas depois, apareceu o emprego no singular, com o significado de um membro da manada, uma ovellha. No AT, com o plural probata significa-se metaforicamente o povo que está sob o domínio do pastor [poimen]. O essencial era a necessidade de proteção, que, sem o pastor, fica disperso (Ez 34,5). Javé providenciará para que seu rebanho não seja disperso, nomeando pastores, tal como o rei messiânico (Jr 23, 1) ou sendo ele mesmo o pastor de seu povo (Sl 78, 52 e Is 40, 11). No NT, probaton é mais frequente em Mateus (11 vezes) e em João (17 vezes). Fica claro que os contemporâneos de Jesus sabiam como a ovelha necessitava da proteção amorosa e abnegada do pastor, e que, sem ele, fica indefesa (Mt 9, 36) e perdida (Mt 10, 6). Jesus, como autêntico pastor é enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 15, 24). Em João probaton denota o povo eleito de Cristo, os seus, os que conhecem sua voz, como vemos no evangelho de hoje, formando um só rebanho e um só pastor (Jo 10, 16), quando finalmente judeus e cristãos fiquem reunidos numa só Igreja com um só Senhor. (Jo 17, 20-23). Com respeito a este último versículo, creio que é mais apropriado esta nossa interpretação que a de apelar aos gentios como ovelhas separadas. APRISCO: A palavra aulê significava nos tempos clássicos um espaço aberto, sem teto, mas cercado com um muro do qual formavam parte os currais; daí que, entre os orientais, significasse especialmente o redil, isto é o curral onde estava recolhido o gado de origem lanígero ou caprino [probata]. Em que consistia um redil? Como temos dito, era um espaço fechado por um muro de pedra sobre o qual existia uma sebe ou tapume de galhos espinhosos, que também podia ser uma cerca viva, para que as feras como lobos e cães selvagens não pudessem pular dentro do curral. É o bardal espanhol, do qual eu tive perfeito conhecimento durante a guerra civil, quando fui obrigado a morar na roça. Parece que existia o costume do pastor dormir junto ao portão para ser despertado caso o ladrão quisesse entrar pelo portão. Dentro do mesmo havia gado de diferentes donos e unicamente os pastores, donos da porção correspondente de ovelhas, conhecidos pelo guardião de turno, podiam entrar pelo portão. QUEM NÃO ENTRA: O portão está sempre à disposição dos donos das ovelhas, mas é lógico que os que não são pastores das mesmas não têm permissão para entrar. Por isso entram pulando o muro. São os que João chama de Kleptes e Lestes. As duas palavras têm significados diferentes: Um Kléptes é um ladrão vulgar, um fraudador, que não usa da violência, mas do engano e da astúcia; é o fur latino [daí a palavra furto]. Já um Lestes é um arrombador que usa a violência e que podemos traduzir por malfeitor, salteador, bandido, ou facínora. A vulgata traduz Lestes por latro [dela provém o ladrão]. Inicialmente latro era a palavra usada para denominar o soldado que se apoderava dos bens inimigos, como saqueador dos mesmos. E foi a palavra usada para descrever Barrabás segundo João. Lestes era também o pirata. Os outros evangelistas falam de Barrabás, como se fosse de um revoltoso. O importante da afirmação é que quem entra pulando a cerca é um malfeitor que não busca o bem das ovelhas, mas pelo contrário, o proveito próprio que delas pode obter.

O PASTOR: Mas aquele que entra através da porta é pastor das ovelhas (2). A este, o porteiro abre e as ovelhas ouve (m) sua voz e as ovelhas próprias chama por nome e as saca (2). Qui autem intrat per ostium pastor est ovium. huic ostiarius aperit et oves vocem eius audiunt et proprias oves vocat nominatim et educit eas. Contrariamente à conduta imprópria dos ladrões e assaltantes, o pastor do rebanho, neste caso das ovelhas, sempre entra pela porta. Na realidade, o probata grego é usado principalmente para designar o gado menor, composto, na Palestina da época, de ovelhas e cabras (Mt 25, 32). Como vemos, no grego usa-se o singular para o verbo ouvir, talvez dando o significado de rebanho, no caso, e poderíamos traduzir: o rebanho ouve a sua voz e chama pelo nome as ovelhas próprias e as conduz para fora.

A CONDUTA DAS OVELHAS: E quando fizer sair as próprias ovelhas, caminha diante delas e o rebanho o segue, porque tem conhecido a sua voz (4). Mas a um estranho não seguiriam, mas fugiriam dele porque não têm conhecido a voz de estranhos (5). Et cum proprias oves emiserit ante eas vadit et oves illum sequuntur quia sciunt vocem eius. Alienum autem non sequuntur sed fugient ab eo quia non noverunt vocem alienorum. O dono das ovelhas ou o pastor das mesmas é conhecido do porteiro e entra pelo portão. Nos versículos seguintes (3, 4, e 5 ) que podem ser um acréscimo do próprio evangelista como explicação, Jesus fala da relação ovelha-pastor: as ovelhas conhecem sua voz; ele as chama pelo seu nome e as conduz fora do aprisco. Logicamente, tudo isto é o oposto da maneira de agir dos assaltantes: as ovelhas são forçadas ou mortas e assim estas são as únicas maneiras de apoderarem-se delas. A um estranho não acompanhariam, mas antes fugirão dele porque não reconheceram sua voz (5).

CONCLUSÃO: Esta narrativa figurada disse-lhes Jesus. Mas eles não conheceram que realidades eram das que lhes falava (6). Hoc proverbium dixit eis Iesus illi autem non cognoverunt quid loqueretur eis. A tradução, querendo ser a mais literal possível, resulta às vezes um pouco forçada. Narrativa figurada é uma tradução do grego original [paroimia] que melhor poderíamos traduzir por metáfora e que a Vulgata traduz por provérbio. De novo, paroimia é usada por João como metáfora prolongada ou uma fala figurada: Estas coisas vos tenho dito falando em palavras figuradas (16, 25). Somente em 2 Pd 2, 22, fala-se de adágio ou provérbio: aconteceu com eles o que diz o provérbio [paroimia]: O cão voltou ao próprio vômito. Porém os ouvintes, que eram os fariseus, não entenderam o significado desta comparação metafórica. Assim este versículo é uma conclusão lógica do evangelista, dadas as circunstâncias em que ele viveu o momento histórico que relata. Era este um lance de tensão entre Jesus e os fariseus a quem, por não ver na cura do cego de Siloé, além do fato material, a realidade transcendente do autor, Jesus terá que chamar de cegos, apesar de se declararem videntes. Por que não admitiam Jesus como o enviado do Pai? E Jesus responde com esta alegoria. Eles, porém, não entenderam a realidade, oculta sob as palavras da comparação. Daí a explicação estrita, dada pelo próprio autor da alegoria, como veremos nos versículos seguintes.

DE NOVO A AFIRMAÇÃO: Disse-lhes, então, de novo, Jesus: Amém, Amém vos digo que eu sou a porta das ovelhas (7). Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e bandidos; não os escutaram as ovelhas (8). Dixit ergo eis iterum Iesus amen amen dico vobis quia ego sum ostium ovium. Omnes quotquot venerunt fures sunt et latrones sed non audierunt eos oves. É uma primeira declaração que explica o porquê o povo de Israel, que era chamado de rebanho que Javé de modo particular pastoreava [dá ouvidos, ó pastor de Israel, tu que conduzes a José como um rebanho; tu que estás entronizado acima dos querubins, mostra o teu esplendor (Sl 80, 1)], tinha uma porta no redil e essa porta de entrada e saída era Ele, Jesus. Pastor, em hebraico é ra’ah<07462> que é traduzido por poimën ao grego e por pastor ao latim. Tanto no grego clássico quanto na bíblia, emprega-se em sentido metafórico para indicar um líder, um governante, um comandante. Platão fala dos chefes de uma polis como sendo cópias do divino pastor [eschema tou theiou nomeus]. No Oriente antigo, pastor era o título de honra que se aplicava de igual modo a soberanos e deuses. No verão seco, em terra sem água, não era fácil achar novas pastagens e o pastor devia cuidar de modo incansável dos seus animais indefesos. No AT Javé é o único Pastor do seu Povo. Esta ideia se destaca nos salmos 23; 28, 29 etc. E o povo é o único rebanho de Javé. Assim se fala de que o rebanho de Israel é conduzido para o exílio (Jr 13, 17). Também, entre outras passagens, podemos citar Isaías 40, 11 onde lemos: o Senhor Javé, vosso Deus…. como um pastor apascenta ele o seu rebanho … No NT poimen aparece 9 vezes nos sinóticos e 6 vezes em João. Os contemporâneos de Jesus desprezavam o pastor, mas foi esta, a metáfora que Jesus empregou para expressar o amor de Deus para com os pecadores e para revelar a sua oposição à condenação destes por parte dos fariseus (Lc 15, 4-6). E, nesta alegoria, Jesus se apresenta como porta das ovelhas e como o autêntico pastor das mesmas. Estas podem ser descritas como poimnh (Jo 10, 16) ou como a soma total das mesmas com a palavra probata. Em ambos os casos, probata é a representação dos seus discípulos, os que ouvem em obediência as suas palavras. Veremos o motivo por que Jesus se identifica com a porta do aprisco já que o Pastor era Javé. A CONCLUSÃO: Todos os que vieram antes de Jesus, não eram os verdadeiros pastores. Porque não entraram pela porta das ovelhas, já que Ele e só Ele era a porta. Isto quer dizer que não existiu verdadeiro Messias antes de Jesus. Quem teve a audácia de se declarar Messias antes de Jesus? No seu tempo houve revoltas contra os romanos, anteriores a Cristo, como falsos profetas. Eram os que não entraram pela porta que é Ele, Jesus, o Filho Encarnado. Ou seja, com esta frase não suprime nem Moisés nem os profetas até João o Batista, pois dEle todos eles falaram, mas todos os que rejeitaram seu nome [pessoa] como os fariseus ou, em seu lugar, tomaram o ministério de serem os Ungidos e Messias, ou salvadores da humanidade, como no caso dos Césares, de título Augusti, ou como Apolônio de Triana, Mitra e Simão o mago, para não falarmos dos falsos messias judeus como o caso de Herodes, o Magno (39 a 4 aC ), a quem os herodianos consideravam como Messias, Judas Galileu (4 a 6 aC) sucessor de seu pai Ezequias morto este por Herodes. Simão da Pereia (4 aC), Atronges, o pastor (4 aC), que foi morto por Arquelau e finalmente Judas, o Galileu (6 aC). Podemos falar inclusive do Batista, cujos discípulos, com o nome de mandeos ou mandeanos, ainda sobrevivem em número de cem mil no norte do Iraque. Se não entraram através da porta, que é Jesus, são falsos pastores. E definitivamente foram causa de revoltas e matanças tanto pelo poder romano como pelos poderes fáticos da Palestina da época. Cita-se Zc 11, 8: Eu destruirei os três pastores em um só mês para indicar os líderes das três seitas religiosas no tempo de Jesus: Fariseus, Saduceus e Essênios que foram suprimidas na guerra, de modo que já não mais tiveram influência dentro do mundo judeu. Faltando na Vulgata o antes de mim e em vários códices gregos, podemos incluir outros movimentos messiânicos como os do profeta samaritano (36 dC) morto por Pilatos, o rei Antipas (44 dC), Teudas, o Egípcio (45 dC), o profeta egípcio (58 dC) o profeta anônimo (59 dC), Menahem filho de Judas o Galileu (66 dC), João de Giscala (66-70 dC), Simão bar Giora (67-70 dC), Tito Vespasiano (67-81), Jonatan o tecedor(73dC). Lukuas (115 dC), e principalmente, de Bar Kokhba (135 dC), o último dos messias nos tempos posteriores a Jesus. O rebanho que não os escutou, significa que não o seguiram indefinidamente, de modo que seus movimentos hoje estão completamente esquecidos. Todos eles levaram à morte seus partidários. Só Jesus morreu pelos seus e disse ao ser preso: deixai que estes se retirem (Jo 18, 8). Então de novo disse Jesus: Absolutamente vos digo: Eu sou a porta das ovelhas (7). Que significa isto? Dos parágrafos anteriores, a porta era principalmente a entrada por onde o verdadeiro pastor entra e recolhe as ovelhas para levá-las ao pasto. Mas se Jesus era a verdadeira porta, quem eram os outros que a si mesmos se intitularam como tais, até o momento em que ele veio e se mostrou aos conterrâneos? Eram ladrões e facínoras. Por isso, não foram escutados pelas ovelhas. Quem eram estes anteriores a Jesus? Sem dúvida, os fariseus e os líderes do povo antes de Jesus. S. Ignácio, o bispo mártir de Antioquia afirma que Jesus é a porta [Thyra como em João] do Pai por onde entram Abraão, Isaac e Jacó, os profetas, os apóstolos e a Igreja (aos de Filadélfia 9, 1).

NOTA: Por serem pouco conhecidos, vamos falar de Simão de Pereia (4 aC): Após a morte de Herodes, o Grande, um escravo de seu séquito, de nome Simão, um gigante em estatura, colocou o diadema real sobre sua cabeça e foi seguido por um número considerável de adeptos. Pôs fogo no palácio de Jericó e em outras casas reais deixando que fossem saqueados. Gratus, o comandante da infantaria de Herodes, uniu-se a alguns soldados romanos e, após derrotá-lo, cortou-lhe a cabeça. Atronges, o pastor (4 aC): Após a morte de Herodes, rebelou-se contra Arquelau. Atronges, um pastor, mas de força e estatura superior, com seus 4 irmãos também de grande porte físico, comandou um grupo numeroso e colocou um diadema sobre sua cabeça. E foi chamado de rei. Matou um gande número de romanos e soldados leais a Arquelau. Atacou uma companhia de romanos em Emaús, que traziam grãos e armas para o exército. Matou 40 deles, entre eles Arius o centurião. Gratus, nosso conhecido, veio em auxílio dos vencidos. Após dois anos de luta, mortos por luta e doença os 4 irmãos, Atronges se entregou sob a promessa de Arquelau de respeitar sua vida. Judas filho de Ezequias (4 aC): Também após a morte de Herodes, e com um número considerável de partidários, atacou Séforis, a capital do norte e tomou as armas e pilhou a cidade. Provavelmente foi capturado pelo governador de Síria, Varo, famoso pela perda das legiões na Germânia anos mais tarde, que semeou de cruzes o caminho até Jerusalém. Judas, o Galileu (6 Dc): Não confundi-lo com o anterior, pois se passaram 10 anos entre os dois e as circunstâncias foram totalmente diferentes. Sendo Arquelau deposto pelos romanos o seu reino foi tomado, como província da Judeia, pelo governador Copônio, que intentou novos impostos. Assim se formou uma rebelião sob a liderança de Judas o Galileu, e quando o sumo sacerdote Joazar foi incapaz de resolver a sublevação, interveio o governador adjacente da Síria, Públio Sulpício Quirino, conhecido por Lucas em 2,2. Nosso Judas, da cidade de Gamala, apoiou-se no critério do fariseu Zadok, para iniciar uma revolta que lutava contra a escravidão, à qual conduziam os impostos, e afirmando que unicamente seu Senhor era o Deus de Israel (ver o tributo ao César dos fariseus). Assim se originou a quarta seita judaica, a dos zelotes. Nos Atos, Judas foi morto e todos os que o seguiam foram dispersos (At 5,37). Como vemos é certíssima a afirmação de Jesus de que todos eles eram ladrões e bandidos. Só serviram para a morte de seus seguidores. No mundo moderno, aqueles que com a escusa da injustiça se levantaram como líderes de uma nova ordem mundial levaram seus seguidores à morte. Os nazistas foram responsáveis por 25 milhões de mortes, ao passo que os mortos, nos vários Estados do socialismo real, não ficaram aquém de 100 milhões, dentre os quais 20 milhões na Rússia e 65 milhões na China (tomado de Carlos I. S. Azambuja, historiador). Pelo que diz respeito aos anos posteriores de Jesus, temos o caso de Teudas, discutível quanto a data, entre o relato dos Atos e o relato de F. Josefo. Segundo Josefo entre o ano de 44 e o 46 dC causou certos distúrbios ao se proclamar Messias e reuniu um grande número do povo à beira do Jordão, dizendo que dividiria as águas do rio. Cuspius Fadus, o procurador, não permitiu mais alterações e enviou uma força de cavaleiros que matou muitos e cortou a cabeça de Teudas, que foi carregada até Jerusalém. O interessante do caso é que esse Teudas é citado por Gamaliel em At 5, 36, mas que a data de sua atuação deve ser retraída ao ano 33, quando Gamaliel fala diante do Sinédrio, no ano em que os apóstolos começavam a pregar o evangelho e foram impedidos pelo supremo tribunal. Fado, efetivamente foi procurador entre 44-66. Houve um erro de Lucas, ou o erro foi de F. Josefo, tantas vezes inseguro pelas datas de sua História das Antiguidades Judaicas? Cremos nesta última hipótese, já que o escrito de Lucas é muito mais próximo dos fatos.

EU SOU A PORTA: Eu sou a porta. Através de mim, se alguém entrar, será salvo e entrará e sairá e encontrará pastagem (9). O ladrão não vem senão para que roube e mate e perca; eu vim para que tenham vida e sem medida tenham (10). Ego sum ostium per me si quis introierit salvabitur et ingredietur et egredietur et pascua inveniet. Fur non venit nisi ut furetur et mactet et perdat ego veni ut vitam habeant et abundantius habeant. Jesus indica claramente que ele é único, como porta, por onde devem entrar todos os pastores de Israel. Ou seja, os reis ou dirigentes messiânicos de Israel, devem se ajustar ao único verdadeiro que é ele, Jesus. Quem não entra, como os apóstolos, pela sua porta não pode ser verdadeiro pastor. Porque os outros que não entram pela porta só se servem das ovelhas para roubar, matar e assim se perdem. Na nota temos visto como a realidade se conforma com as palavras de Jesus. Ele, pelo contrário, veio para que as ovelhas possam viver e até melhor do que viviam dentro dos limites dos antigos pastores de Israel. Por isso, na continuação, Jesus explica seu papel de supremo e verdadeiro pastor. Mas isso ultrapassa os limites do evangelho de hoje.

PISTAS:
1) A afirmação de Jesus de ser a porta do aprisco é de tal modo absoluta, que nos obriga a mantê-la como uma verdade dogmática. Todo aquele, que não se compromete com Jesus e seus ensinamentos, não pode ser verdadeiro pastor das ovelhas que constituem os súditos do reino.

2) Essa porta é única, de modo que qualquer outra porta moral ou dogmática será o mesmo que entrar no aprisco por cima da cerca. E isso constitui os tais ladrões e facínoras, que servem melhor aos seus interesses do que ao bem das ovelhas a eles encomendadas.

3) Quem são os tais? Evidentemente aqueles que buscam o dinheiro como proveito de seus serviços, ou a fama para serem louvados como tais líderes (Mc 12, 38-39), quando Jesus afirma que seu serviço é dar a vida e para isso ele escolheu a própria morte para que elas tenham vida (Jo 10, 15). Jesus aclarará como os chefes da terra subjugam e dominam, mas aquele que quiser ser grande entre seus discípulos deve servir a todos como fez ele mesmo (Mt 20, 25-28).

4) Não podemos esquecer que os primeiros pastores são os próprios pais. Neste mundo em que o bem-estar e o prazer substituem o amor e o serviço, é bom recordar as palavras de Jesus sobre como apascentar as ovelhas, que no caso são os filhos. Por isso, o problema deste Papa será o problema da família e da conservação da vida em todos os aspectos.


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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04.05.2014
3º DOMINGO DE PÁSCOA — ANO A
( BRANCO, GLÓRIA, CREIO – III SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão" __

EVANGELHO DOMINICAL EM DESTAQUE

APRESENTAÇÃO ESPECIAL DA LITURGIA DESTE DOMINGO
FEITA PELA NOSSA IRMÃ MARINEVES JESUS DE LIMA
VÍDEO NO YOUTUBE
APRESENTAÇÃO POWERPOINT

Clique aqui para ver ou baixar o PPS.

(antes de clicar - desligue o som desta página clicando no player acima do menu à direita)

NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.

Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Chegamos, estimados irmãos e irmãs, ao terceiro domingo da Páscoa. Queremos celebrar na alegria e no incentivo de mais uma vez reforçar a nossa fé na ressurreição de Jesus. Infelizmente, ainda nos dias atuais, muitos vivem como os discípulos de Emaús: desanimados, desiludidos, desconfiados, tristes, sem entender a realidade do mundo e não conseguem ver em sua fé o Cristo ressucitado. Será que perdemos, na esfera da fé, a partilha, a solidariedade e a fraternidade, que são valores fundamentais do cristianismo? Como renovar em nossas vidas esses valores? Somos convidados a cultivar uma fé adulta, amadurecida, ouvindo Jesus que nos fala através de seu evangelho e pela participação na fração do pão. Uma fé capaz de nos tirar das futilidades da vida para que a vida seja vivida em plenitude. Peçamos uma vez mais, que o Senhor aumente a nossa fé na ressurreição.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Imbuídos da alegria pascal e irmanados com os nossos irmãos peregrinos em Aparecida, vivamos este momento tão saboroso da fé como foi com os discípulos naquelas aparições depois da Páscoa, nas quais o Senhor, de uma forma muito carinhosa, com eles se encontrou.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: "Eles reconheceram o Senhor ao partir o pão". Esta observação, de caráter litúrgico, ritualiza para nós a experiência da primeira comunidade cristã, das refeições fraternas nas casas dos cristãos, lembrando o Senhor Jesus, suas palavras e seus gestos de salvação, seu sacrifício supremo. Só pode reconhecer o Senhor quem percorreu os caminhos dos problemas do homem, deles participando plenamente: o fracasso, a solidão, a busca pela justiça e verdade, a coerência em direção a um mundo melhor, a solidariedade. Então o Cristo, anônimo e misterioso companheiro, testemunha e interlocutor das hesitações e dúvidas, revela-se não como aquele que tem a solução para todas as questões, mas como alguém que, tendo aceito entrar no Plano de Deus, tornou-se o primogênito de uma nova humanidade.

Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, cantemos cânticos jubilosos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (At 2,14.22-33): - "Jesus recebeu o Espírito Santo que fora prometido pelo Pai, e o derramou, como estais vendo e ouvindo agora."

SALMO RESPONSORIAL (15/16): - "Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto a vós, felicidades sem limites!"

SEGUNDA LEITURA (1Pd 1,17-21): - "Deus o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, e assim, a vossa fé e esperança estão em Deus."

EVANGELHO (Lc 24,13-35): - "Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!"



Homilia do Diácono José da Cruz – 3º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A

"Os discípulos de Jesus"

Nhá Maria era uma senhora bem pobre que gostava muito de vir em nossa casa para receber alguma ajuda. Naquele tempo, o pedinte não era um estranho que causava medo e insegurança como hoje, e nós a acolhíamos na mesa da refeição, porque jamais minha mãe permitia que ela ficasse na porta ou na calçada, um filho de Deus tem que sentar-se á mesa, nos dizia sempre. Claro que os tempos eram outros e ninguém pensava em seqüestro ou assalto. Depois de ouvi-la atentamente, a conversa sempre terminava com a frase tão batida lá em casa, “Se for da vontade de Deus, tudo vai melhorar e dar certo”, que minha mãe dizia, enquanto preparava um cafezinho fresco que a Nhá Maria tomava antes de ir embora, toda agradecida, não sem antes ajudar a arrumar a cozinha.

Este evangelho mostra algo que hoje não se pratica muito em nossas relações: ouvir as pessoas, caminhar com elas, saber como está a vida, o que anda pensando ou sonhando, ou porque andam tristes. Passamos de carro, sempre apressados, e no máximo fazemos um aceno ou buzinamos para os conhecidos.

O caminhante que se junta aos dois peregrinos age diferente, percebe que estão tristes e desanimados, se junta a eles, quer saber o que aconteceu, qual a causa da tristeza, ouve com atenção e somente depois é que vai falar, não deixou suas inquietações sem uma resposta, não terminou a prosa com aquele jeito resignado “fazer o que, a vida é assim mesmo...” Como muitas vezes encerramos nossa conversa com alguém que está sofrendo ou desanimado. É bem verdade que os censurou por serem tão lerdos na compreensão da escritura antiga, mas a conversa foi agradável, marcada pela ternura, pois não se pode anunciar o evangelho com gestos bruscos e cara feia, como se quisesse dar uma lição de moral em quem ouve, isso é perda de tempo! O texto não deixa dúvidas quanto a isso, seus corações ficaram abrasados, enquanto Jesus lhes falava, levando-os a descoberta de algo novo, o sofrimento faz parte da vida, mas não é a última palavra.

Considerando-se a intencionalidade do autor, o texto trata de uma celebração eucarística, com duas partes bem distintas: a Palavra e a Eucaristia, aliás, coisa que nós cristãos herdamos do Judaísmo em uma junção da Sinagoga, lugar da reflexão da Palavra, e Templo, lugar do Sacrifício. Vivemos um tempo histórico diferente do que viveram esses discípulos, porém a situação é quase a mesma, achamos difícil perceber a presença do Senhor em meio a um quadro muitas vezes  desolador, e a história de Emaús, mais parece uma bela lembrança. Eis uma fé distorcida e fragilizada como a dos dois discípulos peregrinos! No coração do Cristão, Jesus Ressuscitado na maioria das vezes é alguém distante de nossa vida e de nossos problemas, parece que o Jesus da história é um, e o Jesus da Salvação é outro,

Pois o evangelho desse domingo, belíssimo por sinal, nos mostra que na comunidade, em cada celebração a história se repete o Senhor nos questiona sobre o que estamos falando pelo caminho desta vida, em que acreditamos, quais são nossas aspirações, o que queremos ver realizado. A palavra que celebramos nos fala da vida de Jesus e de nossa vida também, ela nos encoraja porque penetra em nosso coração, não se restringindo a um mero rito.

Uma caminhada com uma prosa saudável e edificante, fortalecedora e motivadora, não tem coisa mais revigorante neste mundo, assim é que Jesus vem ao nosso encontro em cada domingo. A palavra de Jesus que caminha com eles, não é conversa fiada, lamentação e choramingos, porque as coisas não vão bem, em casa, na comunidade, no trabalho ou na política, Jesus é alguém diferente, que encontrou um sentido novo e sua palavra renovadora, fortalecedora é revigorante, porque nos faz dar a volta por cima, por isso, aos seus discípulos de ontem e de hoje, ele vem confirmar o seu projeto de salvação, anunciando que a morte e a força do mal, não têm nenhum poder sobre o Reino que ele instalou no meio dos homens.

E depois de uma boa conversa, em uma mesa de refeição, Cleofas e seu amigo de caminhada sentem que não podem mais viver sem aquele homem, e o acolhem no coração, quando o conhecem no partir do pão, onde o Senhor partilha com eles seus sonhos e projetos de vida, que ajudam a construir o reino novo.

Não tenhamos medo de percorrer o caminho de Emaús, onde levamos, é verdade, nossos desânimos e fracassos, mas diante da palavra que nos aquece o coração, , manifestemos o desejo de que o Senhor fique sempre conosco, “Fica conosco Senhor pois é tarde, e a noite vem chegando”. E no pão que se parte e reparte, nos fortalecemos, e voltamos com pressa á nossa comunidade, onde não há mais noite, mas na fé caminhamos com os irmãos e irmãs, diante da luz sempre reluzente que é o próprio Deus, presente em Cristo - Jesus!

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 3º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A

Fica conosco, Senhor!

Mane nobiscum, Domine! Este foi o título daquela Carta Apostólica que o Beato João Paulo II escreveu um ano antes de morrer. Quem não se lembra do “ícone dos discípulos de Emaús” proposto pela Papa e que norteou o Ano da Eucaristia? Completou-se apenas uma semana desde a solene beatificação do querido João Paulo II em Roma. Que acontecimento tão comovente! Ele foi o Papa que a nossa geração conheceu e acompanhou durante tantos anos. Tantas recordações vêm à nossa mente! João Paulo II foi uma dessas pessoas que sabia, de maneira experiencial, que “Cristo é o caminho do homem” e por isso era consciente de que não somos nada sem ele, sem Jesus. Fica comigo, Senhor! Trata-se de uma bela oração, de uma frase altamente significativa para este segundo domingo do Tempo Pascal.

Bento XVI, com o coração cheio de gratidão a Deus, nos contava na semana passada, durante a homilia na Missa da beatificação, que durante os 23 anos que passou junto a João Paulo II, de 1982 a 2005, colaborando com ele, muito o tinha surpreendido a vida de oração no novo beato. Era uma pessoa imersa em Deus em meio às várias ocupações da jornada; era um homem de fé, de esperança e de uma preocupação constante pelos demais. Bento XVI falava que pela fé Simão se converteu em Pedro. Parafraseando o Papa, podemos afirmar que pela fé Karol Wojtyla se converteu em João Paulo II.

Fica conosco, Senhor! Que o Senhor permaneça conosco em pleno século XXI, no ano 2011, porque nós queremos continuar servindo a Deus e a todas as pessoas. “Nós queremos servir a Igreja como ela deseja ser servida”, não conforme os nossos caprichos ou gostos pessoais. O Santo Padre nos recordava também na já citada homilia como o Bem-aventurado João Paulo II soube descobrir as riquezas do Concilio Vaticano II, como ele se imergiu na doutrina conciliar e soube expressá-la de distintas maneiras. “O homem é o caminho da Igreja e Cristo é o caminho do homem”. Quem já não tinha escutado alguma vez essa frase tão significativa?

É preciso redescobrir essa realidade: a pessoa humana como caminho da Igreja para apresentarmos a cada ser humano o caminho que realmente é o seu, Cristo. Precisamos compreender as pessoas, amá-las, participar das suas alegrias e tristezas, entender o mundo no qual habitamos junto a elas, acompanhar as situações de pobreza e de riqueza, descobrir o poder da técnica e dos novos meios de comunicação.

Andar por um caminho que não se conhece é muito difícil! A Igreja, como entende que o homem é caminho para ela, se sabe e se declara “mestra de humanidade”: há dois mil anos a Igreja Católica tem acompanhado o ser humano, ela sim entende quem é a pessoa humana e sabe o que é melhor para ela. E nós temos que colocar todos os meios para que sejamos, na Igreja e como Igreja, mestres em humanidade. É preciso conhecer os nossos semelhantes através da simpatia e do amor, conduzidos pelo Espírito Santo, que nos faz apreciar retamente todas as coisas. O Senhor continua no meio de nós.

Cristo é o caminho do homem. Nós não podemos silenciar esta verdade. João Paulo II –afirmava o Papa Bento XVI– nos ensinou a não ter medo de ser cristãos e de pregar o Evangelho. Ele nos ensinou a beleza da fé através da verdade e do amor. Jesus continua atraindo as pessoas desde a cruz. Jesus Cristo continua atual, a sua mensagem nunca passará de moda, ele está sempre presente no hoje da história universal e pessoal.

Para permanecermos sempre com o Senhor, fiquemos sempre na companhia de Nossa Senhora. No domingo passado, Bento XVI também comentava a bem-aventurança de Maria, que é a da fé. Falava também do grande carinho do beato João Paulo II para com a Mãe de Deus. “Totus tuus!” (todo teu, Maria) era o lema do novo Beato. Maria que sempre sustentou a fé dos apóstolos, susteve também a de João Paulo II e sustém a nossa fé para que permanecemos com aquele que quer ficar sempre conosco.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético — 3º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (1Pd 1, 17-21)

O PAI: E se chamais de Pai a quem julga sem acepção de pessoas, segundo a obra de cada um, procedei em temor o tempo de vossa peregrinação (17). Et si Patrem invocatis eum qui sine acceptione personarum iudicat secundum uniuscuiusque opus in timore incolatus vestri tempore conversamini. A intenção do apóstolo é afirmar que a fé, e não as obras fundadas na lei de Moisés, é a que salva, pois foi o sacrifício de Cristo que com seu sangue pagou o resgate pelos pecados. E foi esta fé na ressurreição de Cristo que causa a esperança em Deus como Pai. Porém, Pedro não esquece que, em definitivo, a fé sem obras está morta (Tg 2, 20). É por isso que neste versículo chama a Deus o Pai que julga SEM ACEPÇÃO DE PESSOAS [aprosôpolêptôs<678>=sine acceptione personarum] O grego é um composto de a (sem) prosopôn (pessoa) e lambano (tomar) cujo significado é imparcialmente ou sem acepção de pessoas, que responde evangelicamente às palavras do Batista, sobre o julgamento divino na nova era messiânica: Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo (Mt 3,10) e em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo e queimará a palha com fogo que nunca se apagará (Mt 3, 12). Nesse juízo, segundo Paulo, Deus recompensará cada um segundo as suas obras, a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer o bem, procuram honra, glória e incorrupção, mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade (Rm 2, 6-8). Para deduzir que esse juízo é exato, pois para Deus não há acepção (prosopôlêpsia) de pessoas (idem 11). PROCEDEI [anastrafête<390>=conversamini] é o imperativo do aoristo do verbo anastrefö com o significado de revolver, retornar, reverter e como típico da conduta humana é comportar-se, conviver, proceder. Ou seja, devemos nos portar com esse temor saudável de nossa parte de perder o trem como vulgarmente se diz, porque as nossas obras não correspondem ao que deveríamos realizar. E o apóstolo acrescenta no tempo de vossa PEREGRINAÇÃO [paroikia<3940>=incolatus] a paroikia grega tem o significado de moradia em terra estranha, como vemos na outra ocasião em que aparece a palavra: O Deus deste povo de Israel escolheu nossos pais e exaltou o povo, sendo eles estrangeiros na terra do Egito (At 13, 17). Como adjetivo [paroikos] aparece também em 1Pd 2, 11 : peço-vos como a peregrinos [paroikous] e forasteiros. De modo que os fieis pertencem a uma paróquia ou grupo que na terra considera-se como peregrino na terra. A mesma palavra peregrino indicava em Roma um sujeito não cidadão, mas estrangeiro.

A REDENÇÃO: Sabendo que não por corruptíveis (meios) de prata e ouro fostes remidos da vossa inútil conduta tradicional (18). Scientes quod non corruptibilibus argento vel auro redempti estis de vana vestra conversatione paternae traditionis. CORRUPTÍVEIS [fthartoi<5349>=corruptibiles] a palavra grega indica uma coisa corruptível, perecível. A palavra sai 6 vezes no NT: 4 em Paulo e dois em Pedro, sempre com o significado de coisa perecível, que em si leva a corrupção e destruição de modo especial o homem (Rm 1, 23), pois seu corpo, uma vez que a morte toma conta de sua existência, chega a corromper-se de modo que todos sabem do resultado. Por isso, Paulo fala sempre da diferença entre o corpo mortal corruptível e o corpo dos ressuscitados, incorruptível e imortal (1Cor 15,53). Pedro trata do ouro e da prata como coisas corruptíveis, ou seja, perecíveis máxime dando a elas um valor praticamente nulo, pois não podem ser usados eternamente. Pedro alude aqui ao resgate (lytron) usando o verbo remir [lytro<3084>=redimere] próprio do preço pago em ouro ou prata pelo livramento de um escravo. Pedro coincide com Paulo ao definir a obra de Cristo como um resgate de escravos que se em Paulo é do pecado e da morte, aqui, falando aos pagãos neoconversos, é dos cultos politeístas, que define como inúteis [mataias<3152>=vana] palavra que em grego significa sem força, inútil, desnecessário, imprestável, fútil, vão. Inútil conduta é a expressão que a Setenta e o NT aplicam ao culto dos ídolos como vemos em At 14, 15: Vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo, dirá Paulo aos de Icônio. E aos de Éfeso: E testifico no Senhor para que não andeis como andam os outros gentios, na vaidade [mataioteti] da sua mente (Ef 4, 17). Eram costumes que tradicionalmente receberam de seus antecessores.

O SANGUE DE CRISTO: Mas com precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e mancha, de Cristo (19). Sed pretioso sanguine quasi agni incontaminati et inmaculati Christi. Pedro agora define qual foi o preço do resgate: o sangue de Cristo, que ele chama de PRECIOSO [timios<5093>=pretiosus] o termo grego indica um valor precioso, um grande preço, de muita estima, especialmente caro. Nada menos que o de Cristo a quem compara com um cordeiro sem defeito e sem mancha como eram os escolhidos para o sacrifício. É o que Paulo afirma em 1 Cor 6, 20: fostes comprados a bom preço. Um comentário de Pelágio diz: se comprado por um preço pequeno, de um escravo se exige plena servidão, quanto mais exigirá de nós que nos comprou por um preço altíssimo? A figura de Cristo como cordeiro pascal é coisa conhecida pelos primeiros cristãos e fundamentada nos escritos evangélicos. O Batista o define como cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1, 29), coisa que o próprio escritor do quarto evangelho reafirma ao atribuir a Jesus na hora da morte dos cordeiros pascais esta profecia: isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura que diz: Nenhum dos seus ossos será quebrado (Jo 19, 36). E Finalmente Paulo em 1Cor 5, 7: Cristo nossa Páscoa foi sacrificado por nós. Diante destas palavras que cremos tão claras como poderemos interpretar as de um moderno comentarista afirmando que REDENÇÃO é um termo metafórico que implica uma mudança de situação sem que Cristo tenha pago nada. A Cristo ele custou muito, mas não no sentido de preço, que é pura imagem. Falar de seu sangue e falar de sua morte não implica necessariamente num sacrifício expiatório que tem o sentido pagão de volver favorável a um Deus ofendido. (É que os sacrifícios expiatórios não existiam entre os judeus? Ver Êx 29, 33 e 30, 10 em que o animal para a expiação é precisamente um carneiro [ayil<352>] para a expiação [kippur<3725>]).

PLENITUDE DOS TEMPOS: Já de antemão conhecido desde (a) fundação do mundo, mas manifestado em últimos tempos por causa de vós (20). Praecogniti quidem ante constitutionem mundi manifestati autem novissimis temporibus propter vos. CONHECIDO DE ANTEMÃO [proegnôsmenou<4267>=precognitus] o verbo é composto de pró [antes] e gignoskò [conhecer] com o qual temos um preconhecimento. O texto diz desde a FUNDAÇÃO DO MUNDO [katabolê <2602> kosmou<2889>=constitutio mundi] uma frase que em Mateus 13, 35 significa desde que houve habitantes na terra é o mesmo que o reino preparado desde a fundação do mundo (Mt 25, 34). Também Lucas fala do sangue de todos os profetas derramado desde a fundação do mundo (Lc 11, 50). O conhecimento era, sem dúvida, o que tinha Deus em seus planos ocultos e que foi revelado como diz Paulo na plenitude dos tempos, (Ef 1, 10) e não em outras gerações (Ef 3, 5). O conhecimento estava reservado aos tempos messiânicos que eram considerados como a última etapa da História ou plenitude dos tempos em que Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei (Gl 4, 4). POR VÓS [di ymas<5209>=propter vos] é uma expressão que indica a finalidade do sacrifício de Cristo: se imolou por nós pois como diz Paulo em Gl 2,20 todos podemos dizer que vivemos a nossa vida na fé, como crucificados com Cristo, que nos amou e se entregou por nós, cujo sangue foi derrammado por nós (Lc 22, 20).

A ESPERANÇA CRISTÃ: Os crentes por causa dele em Deus, o qual o ergueu dentre os mortos e deu-lhe glória, de modo que a vossa fé e esperança estejam em Deus (21). Qui per ipsum fideles estis in Deo qui suscitavit eum a mortuis et dedit ei gloriam ut fides vestra et spes esset in Deo. CRENTES [pisteuontas<4100>=fideles] na realidade muitos manuscritos têm pistous [fideles] ou fieis que para o sentido total não introduz muita diferença. Por causa de acreditar em Cristo temos a segurança de que Deus que o ressuscitou dentre os mortos será a nossa glória como foi a de Cristo de modo que a fé seja causa de uma esperança que o próprio Deus avalia.

EVANGELHO Lc 24, 13-35
OS DISCÍPULOS DE EMAÚS

EMAÚS: Ora, eis que dois deles estavam caminhando nesse dia a uma vila, distante sessenta estádios de Jerusalém, de nome Emaús (13). Et ecce duo ex illis ibant ipsa die in castellum quod erat in spatio stadiorum sexaginta ab Hierusalem nomine Emmaus. EMAÚS: Seu nome significa banhos quentes e era uma vila [komes], ou seja, um conglomerado de casas rústicas para servir de habitações para os camponeses e outros, chamados teknos [marceneiro, pedreiro e ferreiro numa só pessoa] com uma população talvez inferior a 400 habitantes. Na atualidade, existe um local a 60 estádios ou aproximadamente 10 Km de distância de Jerusalém, que corresponde ao relato de Lucas. O Emaús bíblico [El- Qubeibah] está situado ao lado de uma via romana que ia de Jerusalém ao mar. Perto existe uma fonte que diz era onde Jesus lavou os pés após a caminhada com os dois discípulos.

A CONVERSA: E eles conversavam entre si acerca de todas as coisas acontecidas (14). E sucedeu que, enquanto eles conversavam e discorriam, também ele, (o) Jesus, tendo-se aproximado, caminhava com eles (15). Et ipsi loquebantur ad invicem de his omnibus quae acciderant Et factum est dum fabularentur et secum quaererent et ipse Iesus adpropinquans ibat cum illis. ACONTECIDAS [Symbebëkotön <4819>=acciderant]: Evidentemente eram os sucessos da morte de Jesus e de sua desaparição, tendo como sinal de discussão o sepulcro vazio. Era o domingo e o acontecido estava recente em suas mentes. Disso falavam entre si enquanto caminhavam. DISCORRIAM [Syzëtein <4802>=quaererent]: O verbo grego significa buscar, inspecionar, examinar e também debater, comentar. Temos optado por um verbo neutro como discorrer, ou seja, comentar em sentido de querer compreender o que tinha sucedido, pois para eles, os fatos não tinham uma razão compreensível. Nesse momento, Jesus, que no grego tem o artigo determinante para indicar que era Ele precisamente, uniu-se a eles, como nova companhia.

OLHOS IMPOSSIBILITADOS: Porém, os olhos deles estavam travados de modo a não o reconhecerem (16). Oculi autem illorum tenebantur ne eum agnoscerent. TRAVADOS [Ekratounto <2902>=tenebantur]: Segundo o sentir da época, os olhos tinham dentro uma espécie de lanterna ou lâmpada, que se iluminava e assim podiam ver as coisas (Mt 6, 22 e Lc 11, 34). O verbo grego Krateö significa agarrar, se manter firme, resistir, conter, e por isso, optamos por travar; daí entupir, estar fechado. Os seus olhos estavam atenazados, segurados; o latim diz tenebantur [estavam retidos ou reprimidos]. A consequência é que Jesus não foi reconhecido. NÃO O RECONHECERAM: Muitos falam de que na ressurreição existe uma diferença corporal que transforma a aparência natural, como viram os apóstolos o rosto de Jesus no monte Tabor. Ou melhor, como foi a aparência que tomou Jesus ao aparecer a Maria Madalena (Jo 20, 14) ou aos discípulos na margem do lago (Jo 21, 4-7). Sem dúvida que Jesus não tomou a aparência usual de seu rosto terreno, para não causar pânico ou medo, como devia ser, caso vissem um morto ressuscitado que seria tomado por um fantasma (Lc 24, 37).

A PERGUNTA: Então lhes disse: Quais as palavras essas que discorríeis entre vós, caminhando; e (por que) estais tristes?(17). Et ait ad illos qui sunt hii sermones quos confertis ad invicem ambulantes et estis tristes. Sem dúvida que Jesus fala sobre o que pode escutar deles entrando na conversa sem produzir sobressalto algum. Foi um encontro normal entre caminhantes. No versículo 21 explica a causa da tristeza como sendo a perda de uma grande esperança que a morte tinha defraudado.

A RESPOSTA: Tendo respondido então, um deles, de nome Cléofas, disse-lhe: tu só dos que moras em Jerusalém e não conheces as (coisas) acontecidas nela nestes dias? (18). Et respondens unus cui nomen Cleopas dixit ei tu solus peregrinus es in Hierusalem et non cognovisti quae facta sunt in illa his diebus. CLÉOFAS: O grego diz Kleopas<2810> que o latim traduz por Cléophas e que aparentemente pode ser uma abreviatura de Cleopatros nome grego que significa [filho] de pai ilustre. Alguns distinguem entre este Kléopas e um outro que em grego tem um nome parecido, Klöpas[<2832>=Cleophas], mas que o latim traduz da mesma forma. Este Cleophas [latino] é o esposo da irmã de Nossa Senhora, também chamada Maria, a de Klöpas, e que estava ao pé da cruz, segundo João 19, 25: a irmã de sua mãe, Maria a de Köplas [Cleophas em latim, Cléofas português e Cleofás castelhano]. Klöplas tem a mesma origem que o aramaico Achab<0256> e significa tio. Como a mulher tinha o mesmo nome de Maria, [a da mãe de Jesus] daí deduzimos que Klöpas era realmente o irmão de José, esposo de Nossa Senhora e que a sua mulher era cunhada e ao mesmo tempo era a mãe de Tiago, chamado o menor e irmão de Jesus. Klöpas é a tradução aramaica de Cleopas. Kleopas e Klöpas eram, pois, a mesma pessoa, ou seja, tio de Jesus por parte de pai. Há quem, por esta circunstância, identifica Kleofas com Alfeu ou Alfaios, que em Mt 10, 3 se diz ser o pai de Jacob ou Tiago. Em todo caso ao indicar um nome, Lucas quer nos dizer que o relato tem uma boa fonte testemunhal. Que é uma narração de primeira mão.

PERGUNTA JESUS: Então lhes disse: Quais? Eles, pois, lhe disseram: as coisas acerca de Jesus o Nazoraio (sic), que se tornou homem profeta poderoso em obra e palavra diante de (o) Deus e de todo o povo (19). E como os chefes dos sacerdotes e os dirigentes [civis] o entregaram a um juízo de morte e o crucificaram (20). Quibus ille dixit quae et dixerunt de Iesu Nazareno qui fuit vir propheta potens in opere et sermone coram Deo et omni populo. Et quomodo eum tradiderunt summi sacerdotum et principes nostri in damnationem mortis et crucifixerunt eum. NAZORAIO [Nazöraios<3480>=nazarenus]: Qual é a diferença entre Nazareno e Nazoraio? Sem dúvida que nazareno significa oriundo de Nazaret. Mas que Significa nazoraio? Segundo alguns, a distinção está em que nazoraio vem de Naziyr [<05139>=sanctificentur] e que se traduz como Nazirado em português (nazireato em espanhol e italiano). Em Nm 6, 2: era o nome dado aos consagrados a Deus com voto especial, tanto homens como mulheres. Podia ser perpétuo como o caso do João, o Batista (Lc 1, 15); ou temporário, como em Paulo (At 18, 18). Pouco sabemos de como se fazia e temos muito maior conhecimento dos ritos para terminar esse estado especial. A Setenta usa o Euchë [<2171>=votum] voto, sem usar uma palavra para o Nazir. O voto impedia toda bebida de vinho ou fermentada, o corte de cabelo e o afastamento de todo cadáver mesmo do pai ou da mãe. Não parece que Jesus tivesse feito esse voto, pois bebia e comia (Mt 20, 22) e não teve inconveniente em tocar um cadáver (Mc 5, 41 e Lc 7, 31). Nazarenos [<3479>=nazarenus] é propriamente latim e Nazöraios é grego. Temos o exemplo em João 19, 19 no título da cruz em que usa o grego Nazöraios. Mateus em 2, 23 usa o mesmo Nazöraios como apodo próprio de Jesus. Uma única vez, em Lucas, vemos o Nazarene [de Nazaré] em 4, 34: Que a mim e a ti Iësou Nazarëne? Dirá o demônio. É Marcos quem usa o Nazarenos (grego latinizado) com o qual temos uma prova de que ele escreveu para os gregos de Roma. Cremos que nas três passagens de Marcos (1, 24; 14, 67 e 26, 6) o nome Nazarenos, tem um final latinizado e, portanto, equivale ao grego geográfico Nazöraios. Pois a terminção os é própria do patronímico grego, enquanto a nus é própria do latim. Estavam tristes, porque esse Jesus era PROFETA [profëtës <4396>=propheta]. Tanto o grego como o latim acrescentam homem (anër/vir) de modo a ser a tradução varão profeta a mais exata. Fundamentalmente profeta é quem fala em nome de Deus, iluminando e orientando a vida e a história do povo, denunciando tudo que seja ruptura com a aliança. Jesus reivindica para si mesmo essa condição de profeta (Mt 13, 57, Lc 13, 33 ; Jo 6, 14 e 7, 40). Poderoso em obra e palavra. Dos profetas do AT sabemos que pelo menos Elias e Eliseu realizaram milagres além de falar em nome de Jahveh. E este poder extraordinário foi em Jesus testemunho de sua palavra como procedente de Deus: Se não credes em mim, crede nas obras (Jo 10, 38). Por isso, era profeta diante de Deus e de todo o povo. Como muitas vezes, a palavra Deus está acompanhada do artigo determinante o que ressalta o verdadeiro Deus dos muitos deuses pagãos da época. Os chefes dos sacerdotes [archiereis <749> = summi sacerdotum]. A maioria das versões vernáculas traduz por sumos sacerdotes (exemplo TEB). É verdade que um sumo sacerdote mantinha o título por vida e que em tempos de Jesus exixtiram muitos que obtiveram o título porque o cargo era venal e mudava quase anualmente; Josefo fala que houve 28 sumos pontífices entre Herodes e os anos 64, um total de 170 anos, o que dá um a cada dois anos e meio. Mas, neste caso, significa chefes dos sacerdotes (príncipes de los sacerdotes –diz Nácar Colunga e a KJB fala de chief priests), como parece indicar o latim [summi sacerdotum], que segundo Josefo eram os chefes das principais famílias além dos que tinham sido sumos pontífices e o atual chamado Nasi, que presidia a tribuna, o Sagan, o tesoureiro do templo e outros. E os nossos dirigentes [archontes <75,8> = príncipes], que também eram chamados de bouletes [conselheiros] ou dygnatoi, [dignatários] que eram os aristocratas das famílias mais ricas da cidade. Lucas, que em 9, 22, claramente alude aos três componentes do sinédrio, aqui não diz nada sobre a terceira parte do mesmo que era formada pelos escribas. Sem dúvida que estes últimos, como respeitados pelo povo, tinham entre seus membros Nicodemos que se opôs à condena de Jesus (Jo 7, 50). O entregaram [paredökan <3860>=tradiderunt] O verbo tem como significado entregar uma pessoa ou coisa nas mãos de outra. Daí atraiçoar como em Mt 5, 25 te entregue nas mãos do juiz. A entrega terminou com a morte em cruz, a mais horrível e humilhante para um romano e a mais maldita para um judeu. Deus não podia permitir semelhante morte para um profeta seu. Morrer nas mãos do príncipe inimigo, como o Batista nas de Herodes Antipas, era um martírio; mas na cruz era uma maldição.

ESPERANÇA VÃ: Já que nós esperávamos que viesse libertar Israel. Mas já sobre estas coisas prevalece o terceiro dia desde que passaram elas (21). Nos autem sperabamus quia ipse esset redempturus Israhel et nunc super haec omnia tertia dies hodie quod haec facta sunt. E explicam a causa de sua tristeza que, em definitivo, é uma perda de esperança: Jesus tinha fomentado a esperança messiânica [libertação de Israel] e agora tudo acabou. Nestas palavras está resumido o sentimento mais profundo e a alma de todos os discípulos de Jesus. Tanto esforço, tanta ilusão perdida. Tudo foi um sonho bonito que agora se transforma em dolorosa desilusão. Eram três dias de profunda tristeza, como o Mestre tinha anunciado Klausete [plorabitis=lamentareis] e thrënësete [flebitis= chorareis] (Jo 16, 20), como faziam as plangentes na morte dos que pranteavam.

OS RUMORES: Mas também certas mulheres das nossas nos deixaram surpresos havendo estado muito de manhã sobre o túmulo (22). E não tendo encontrado o corpo dele, voltaram dizendo também ter visto uma visão de anjos os quais dizem que ele está vivo (23). E alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro e encontraram assim como as mulheres falaram, mas a ele não viram (24). Sed et mulieres quaedam ex nostris terruerunt nos quae ante lucem fuerunt ad monumentum et non invento corpore eius venerunt dicentes se etiam visionem angelorum vidisse qui dicunt eum vivere et abierunt quidam ex nostris ad monumentum et ita invenerunt sicut mulieres dixerunt ipsum vero non viderunt. Havia, porém uma coisa estranha que eles duvidavam fosse realidade interessante: Temos traduzido o mais literalmente possível, respeitando tempos de verbos e significado das palavras. O caso é que os dois discípulos se mostraram tão céticos como hoje muitos dos leitores do evangelho, que só admitem como históricos o sepulcro vazio e a ausência do corpo. As visões e aparições são tidas como imaginárias, sem fundamento real. Jesus não aparece como apareceu Nossa Senhora aos pastorinhos de Fátima. A Virgem não era vista pelos assistentes. Era, pois, uma aparição interna sem que uma máquina fotográfica pudesse recordar a cena. Mas no evangelho de hoje temos a resposta: ele tinha um corpo como um homem qualquer. Precisamente a ¨cegueira¨ dos dois discípulos de Emaús, indica que ele não foi uma aparição do tipo que certos teólogos indicam: ele, para todos os efeitos, era de carne e osso, indistinguível como se fosse um homem comum. Os evangelistas distinguem perfeitamente a visão dos anjos [vestes resplandecentes], que podem ser semelhantes às aparições de Fátima, das aparições de Jesus durante os 40 dias: é o mesmo Jesus de sempre, o Jesus ainda não transformado porque não tinha ido ao Pai (Jo 20, 17). Quer dizer que só depois da Ascensão ele tomou o corpo espiritual que dirá Paulo (1 Cor 15, 43-45)? É uma hipótese que não tem nada contra a teologia e que não pode ser descartada, já que a visão de Paulo de Jesus Ressuscitado parece ser uma visão, cuja fonte era a luz (At 9, 3). Neste trecho, escrito muito antes do evangelho de João, segundo o que nos diz a tradição, temos um resumo das primeiras aparições de Jesus que concorda plenamente com o relato joanino. Estes dois evangelistas devem ser tomados como base real do sucedido e não como descrição catequética do mesmo.

APOLOGIA DE JESUS: Então ele lhes disse: Ó sem inteligência e tardos no coração para crer em todas (as coisas) que falaram os profetas! (25). Et ipse dixit ad eos o stulti et tardi corde ad credendum in omnibus quae locuti sunt prophetae. Começa censurando-os: Sem entendimento e tardos de mente [coração no original]. Usando termos mais claros poderíamos traduzir por tontos e estúpidos, não no sentido de um insulto, mas de um fato certamente real e comprovável. A compreensão das Escrituras não depende unicamente da graça de Deus, mas também da disposição de ânimo do leitor. Com uma mente perturbada por prejuízos como a dos saduceus, que não admitiam a ressurreição, era impossível admitir a de Cristo. Com uma mente como a moderna em que o milagre é menosprezado, é lógico que os relatos dos evangelhos sejam tomados exatamente como os das mulheres foram aceitos pelos discípulos: lendas, fantasias.

A INTERPRETAÇÃO: Certamente, não convinha Cristo padecer essas coisas e entrar na sua glória? (26). E começando desde Moisés e desde todos os profetas interpretava-lhes em todas as Escrituras os (acontecimentos) acerca dEle (28). Nonne haec oportuit pati Christum et ita intrare in gloriam suam. Et incipiens a Mose et omnibus prophetis interpretabatur illis in omnibus scripturis quae de ipso erant. Jesus, como companheiro de viagem, se torna agora mestre de sabedoria para interpretar as Escrituras, fazendo apologia de sua paixão: Era necessário que o Ungido [Messias] padecesse, para assim entrar na sua glória [a posse do seu reino]. O verbo Deo [<1163>=oportuit] significa atar, e em termos teóricos obrigar, por estar sujeito a uma lei. O singular impessoal dei significa uma obrigação iniludível, porque estava escrito, isto é: era um plano de Deus transmitido através dos profetas (25). E começando por Moisés, diz Lucas. Na realidade, Moisés diretamente não fala do Messias a não ser em Dt 18, 15: Javé, teu Deus suscitará um profeta como eu, no meio de ti, dentre os teus irmãos, e vós o ouvireis. Temos uma outra citação em Gn 3, 15: A descendência da mulher esmagará tua cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar. Porque o Pentateuco era o livro escrito por Moisés, ao menos substancialmente. Além destas profecias que podemos chamar diretas e que são as únicas que nos tempos modernos aceitamos como verdadeiras, não podemos esquecer que, muitas vezes, os antigos viam na Escritura tipos e imagens do futuro como verdadeiras profecias. Entre esses tipos temos Isaac levando a lenha para o sacrifício que ia ser executado pelo pai, mas que no último momento foi substituído por um carneiro (Gn 22, 6-14). Temos a serpente de bronze, da qual o próprio Jesus comentou que era sua figura (Nm 21, 8 e Jo 3, 14). Também podemos ver nos sacrifícios ordenados por Moisés, figuras do sacrifício de expiação pelos pecados da Nova Aliança de Jesus, especialmente no dia do Yom Kippur pelo holocausto do bode expiatório (Lv cap 9), que a epístola aos hebreus, no capítulo 9, afirma ser figura imperfeita de Jesus. Pelo que diz respeito aos outros profetas, tais como Davi nos salmos 22, 1-31, Isaías 53, 1-12 e Daniel 9, 1-27 as referências são muito notáveis. Por isso Jesus interpretava as Escrituras, embora não saibamos em que termos, pois o evangelista não o declara.

FICA CONOSCO: Então se aproximaram da vila para a qual caminhavam e Ele pareceu passar adiante (28). E o coagiram dizendo: fica conosco já que é a tarde e o dia declina. Então entrou para ficar com eles (29). Et adpropinquaverunt castello quo ibant et ipse se finxit longius ire. Et coegerunt illum dicentes mane nobiscum quoniam advesperascit et inclinata est iam dies et intravit cum illis. Só devido a uma pequena dificuldade para a volta, vamos explicar o vocábulo grego por TARDE [espera <2073> =advesperascit]. De fato, o original diz que é a tarde [substantivo] e não que é tarde [adjetivo, fora do tempo]. A Vulgata com o verbo advesperascit indica que já chegou a tarde. Esta começava às três horas, e era o momento do almoço. O dia, ou melhor, a luz do dia acabava às seis horas.

AO PARTIR O PÃO: E sucedeu ao se recostar ele com eles, tomando o pão, (o) abençoou e tendo (o) partido (o) dava a eles (30). Et factum est dum recumberet cum illis accepit panem et benedixit ac fregit et porrigebat illis. Segundo a Mishná, se são três os que devem comer juntos, são obrigados a benzer a mesa, porque se são três os que comem juntos não podem separar-se para a bênção (Berajot 7, 4). Segundo a tradição judaica, na liturgia da Páscoa após a segunda copa, copa de Haggadá [das narrações da tradição] se iniciava o banquete com a bênção da mesa, feita pelo pater-famílias sobre o pão ázimo: tomava o pão e o abençoava com estas palavras: Louvado sejas tu, Senhor nosso Deus, Rei do mundo que fazes sair o pão da terra. Os comensais respondiam Amém; e, na continuação, o pai de família repartia o pão. O pai da casa tomava o último pedaço e começava a comer; com isso ele dava o sinal para todos de que o banquete tinha começado.

OS OLHOS SE ABRIRAM: Os seus olhos então se abriram e conheceram-no e Ele se tornou invisível para eles (31). Et aperti sunt oculi eorum et cognoverunt eum et ipse evanuit ex oculis eorum. É precisamente nesta bênção e no partir o pão que os dois discípulos reconhecem a pessoa de Jesus. Os olhos se abriram e o reconheceram. Os três sinóticos falam de como Jesus, erguendo os olhos ao céu (exemplo Lc 9, 18) e abençoando o pão partiu-o e o entregou a seus discípulos. A oração, entre os judeus, sempre se fazia com o olhar baixo, em sinal de submissão; e Jesus pronunciava o nome de Pai no lugar do Adonai usual entre os conterrâneos. Os olhos, que estavam travados, agora reconheceram o Mestre; mas não puderam gozar da visão por muito tempo, porque a figura que foi seu acompanhante no caminho, agora se desvaneceu. Ele se tornou invisível [afantos] a eles. A palavra grega indica um não ser visto, um desvanecer ou desaparecer. Indica que é assim que nós vamos encontrar o Cristo: desvanecido nas Escrituras, e sem poder ver seu rosto, que pela fé encontramos no partir o pão, como os dois contaram aos onze [que na realidade eram dez] após a volta de Emaús.

OS DISCÍPULOS: Então disseram entre si: não estava ardendo nosso coração dentro de nós enquanto falava conosco no caminho e nos abria as Escrituras?(32). E tendo se levantado, na mesma hora, voltaram para Jerusalém e encontraram reunidos os onze e os que (estavam) com eles (33), dizendo que ressuscitou o Senhor verdadeiramente e foi visto por Simão (34). Et dixerunt ad invicem nonne cor nostrum ardens erat in nobis dum loqueretur in via et aperiret nobis scripturas. et surgentes eadem hora regressi sunt in Hierusalem et invenerunt congregatos undecim et eos qui cum ipsis erant dicentes quod surrexit Dominus vere et apparuit Simoni. Somente eram dez, mas como Lucas não narra a aparição particular a Tomé, daí que ele o inclua entre os apóstolos e fala dos onze. Quando chegam os de Emaús que particularmente não pertenciam aos onze, encontram junto com estes, outros discípulos congregados e falando de que realmente Jesus tinha ressuscitado e tinha sido visto por Simão [Pedro]. Esta aparição é confirmada por Paulo: Apareceu a Cefas e depois aos doze (1 Cor 15, 5). Vemos como aqui também o número 12 é usado como uma relação genérica, sem incluir no caso a Judas e Tomé.

SEU TESTEMUNHO: Então eles contaram as coisas no caminho e como foi por eles conhecido ao partir o pão (35). Et ipsi narrabant quae gesta erant in via et quomodo cognoverunt eum in fractione panis. Então eles acrescentaram sua história que, além de vê-lo vivo, continha uma lição de como interpretar as Escrituras. Jesus não olvidava seu ministério de Rabi, como Mestre de seus discípulos. É um fato, que muitos exegetas apresentam como significativo, que Ele fosse reconhecido ao partir o pão. Ele foi pela primeira vez reconhecido como rei após a primeira multiplicação dos pães, quando os abençoou e partiu (Mt 14, 19) e depois mandou que os discípulos os dessem à multidão. Esse foi o momento em que a multidão o declarou como o profeta que deveria vir ao mundo e alguns até queriam torná-lo rei (Jo 6, 14-15). Foi também ao partir o pão que Ele foi reconhecido pelos dois discípulos.

PISTAS:

1) A pergunta inicial: Por que a vida é sempre vencida pela morte? Por que o mal sempre triunfa do bem? O Pai abandona o Filho Jesus, ou este era simplesmente um impostor? Essencialmente as perguntas que se faziam os dois discípulos eram estas. Jesus não usa o raciocínio humano para responder, mas os escritos sagrados. Sem Jesus, as Escrituras não têm mais sentido que o dado pela comemoração de uma História particular e parcial do povo hebreu. Em Jesus encontraremos a culminação da História e a razão de nossa história porque em Jesus encontramos a justificação de como o mal deve ser vencido pelo bem: pelo sacrifício da própria vida para que, perdendo-a, outros a encontrem e a vivam melhor.

2) S. Agostinho afirma que o Senhor foi conhecido ao partir o pão; e também o conheceremos hoje ao partir o pão: a) O pão da Eucaristia onde o encontramos substancialmente. b) O pão repartido entre os necessitados, com os quais ele quis se identificar.

3) A vida, como uma dádiva de Deus, está se tornando uma circunstância para gozar da mesma sem sentido de solidariedade. Os cristãos não param na dádiva, mas no Senhor da mesma e vemos, como sendo Ele amor e ela produto do amor, devemos responder com amor. Ou seja, como entrega e não como posse definitiva. Por isso o padecer temporal é a base para a glória definitiva.

4) Apareceu a Simão: ele era o irmão que devia manter a fé dos irmãos (Lc 22, 32). A contrariedade e o sofrimento nos tornam fracos em nossa fé. Mas é aí onde a fortaleza de Deus se manifesta (2 Cor 12, 10). Os judeus pediam milagres e profecias (Lc 22, 64 e 23, 8) e os romanos poder, porque, quando Pilatos ouviu que Jesus veio a dar testemunho da verdade, o desprezou (Jo 18, 38). Mas é essa verdade que Jesus afirma: o Messias deve sofrer e assim unicamente entrar na glória do seu reino (25).


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!

Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".

( Salmos )

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