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Índice desta página:
Nota: Cada seção contém Comentário, Leituras, Homilia do Diácono José da Cruz e Homilias e Comentário Exegético (Estudo Bíblico) extraído do site Presbíteros.com

. Evangelho de 16/10/2016 - 29º Domingo do Tempo Comum
. Evangelho de 09/10/2016 - 28º Domingo do Tempo Comum


Acostume-se a ler a Bíblia! Pegue-a agora para ver os trechos citados. Se você não sabe interpretar os livros, capítulos e versículos, acesse a página "A BÍBLIA COMENTADA" no menu ao lado.

Aqui nesta página, você pode ver as Leituras da Liturgia dos Domingos, colocando o cursor sobre os textos em azul. A Liturgia Diária está na página EVANGELHO DO DIA no menu ao lado.
BOA LEITURA! FIQUE COM DEUS!

O PESO DE NOSSA CRUZ!
Clique para ver uma apresentação especial!

16.10.2016
29º DOMINGO DO TEMPO COMUM — ANO C
( Verde, Glória, Creio – I Semana do Saltério )
__ "Oração constante: alimento seguro da fé" __

EVANGELHO DOMINICAL EM DESTAQUE

APRESENTAÇÃO ESPECIAL DA LITURGIA DESTE DOMINGO
FEITA PELA NOSSA IRMÃ MARINEVES JESUS DE LIMA
VÍDEO NO YOUTUBE
APRESENTAÇÃO POWERPOINT

Clique aqui para ver ou baixar o PPS.

(antes de clicar - desligue o som desta página clicando no player acima do menu à direita)

Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A liturgia de hoje sugere dois temas importantes: a força da oração e a importância da Sagrada Escritura, mas ambos têm o mesmo pano de fundo: a esperança da salvação em Jesus. Atendendo ao apelo que Jesus nos fará de rezar sempre e, em conformidade com o seu pedido de evangelizar todas as nações, procuremos, pelo testemunho, demonstrar o mandamento maior do amor que com ele nos identifica.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, pouco a pouco vamos nos aproximando do final do ano litúrgico e o Senhor nos oferece a oportunidade de nos reunirmos em seu nome para elevar ao Pai nossa grande e solene oração de ação de graças, expressão maior de nossa fé. Queremos que por ocasião da vinda gloriosa do Senhor, Ele nos encontre a todos perseverantes na oração. Entreguemo-nos, pois, confiantes ao Senhor que escuta nossa prece e que nos guarda como a pupila de seus olhos.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER:O tempo da expectativa pela última vinda de Cristo é o tempo da fé e da oração. "Quando o Filho do homem vier, encontrará fé sobre a terra?" (Lc 18,8). Fé e oração estão intimamente unidas. Se é verdade que para orar é preciso crer, também para crer é preciso orar. A oração perseverante é expressão e alimento da fé em Deus. O dirigir-se a Deus explicitamente é ato de fé nele, como pessoa sempre presente e distinta de qualquer outra realidade.

Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Ex 17,8-13): - "Assim, suas mãos não se fatigaram até ao pôr do sol!"

SALMO RESPONSORIAL 120(121): - "Do Senhor é que me vem o meu socorro, do Senhor que fez o céu e fez a terra."

SEGUNDA LEITURA (2Tm 3,14 - 4,2): - "Permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como verdade; tu sabes de quem o aprendeste."

EVANGELHO (Lc 18,1-8): - "Mas o Filho do Homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?"



Homilia do Diácono José da Cruz — 29º Domingo do Tempo Comum — ANO C

Virtudes e Esperança

Já vi escrito em muito para-choque de caminhão, que “O pobre vive de teimoso”, uma frase que embora irônica tem um fundo de verdade, pois teimosia nesse caso, é sinônimo de perseverança, paciência e esperança, virtudes que são na verdade o tempero da nossa fé, porque a fé que não persevera, que não é paciente e não traz no coração a esperança, é morta, pois segundo São Tiago, a Fé deve ser sempre vivenciada e transformada em obras. No olhar do pobre encontramos um brilho de esperança, basta ver as filas em busca de algum benefício nos bancos ou em repartições públicas, ou até mesmo em fila de liquidação nas grandes lojas, o pobre é capaz de varar o dia, a noite e a madrugada, para guardar um lugar, sempre esperançoso de alguma melhora ou benefício.

Não se quer dizer que estas virtudes sejam exclusivas do pobre, mas é que o rico não tem muita paciência e perseverança e nem seria necessário, uma vez que o dinheiro compra tudo nesta vida, fazendo com que o rico coloque toda sua segurança em seu patrimônio e no dinheiro e, portanto, essas virtudes sempre nascem e são cultivadas no coração do pobre por causa da sua necessidade, que o leva a pedir. É esse o caso dessa viúva que aparece no evangelho desse domingo, pois naquele tempo não havia leis que protegiam e davam garantias à mulher, no caso do falecimento do esposo e a viuvez, junto com a orfandade, era sinônimo de desamparo e abandono, já que o parente mais próximo do falecido, apossava-se de todos os seus bens sobrando para a viúva a triste sina de viver de esmola, pois a mulher não tinha direito de propriedade.

Na lógica humana a viúva não tinha outra alternativa se não a de resignar-se com a sua sorte, pois o juiz dificilmente iria lhe fazer justiça, já que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Conformismo e resignação parecem fazer parte da índole do nosso povo, que deixa o destino da nação nas mãos de certos homens inescrupulosos, sem se importar com os rumos da política ou da economia, tornando-se uma perfeita “Vaquinha de presépio”, engolindo tudo que é sapo, ignorando a sua cidadania e seus direitos essenciais. Mas não é esse o caso da viúva, ela não se conformou com o abandono e a exploração da quais as viúvas eram vítimas e resolveu “virar a mesa” indo à luta por aquilo que considerava justo. Não se sabe quantas vezes ela bateu à porta desse juiz, mas a se julgar pelo temor do magistrado, não deve ter sido só duas ou três e nem foi tão pacífica assim. Claro que exercício de cidadania não deve ser confundido com arruaça e vandalismo.

Os maus governantes sempre tremem na base, quando o povo toma consciência de seus direitos e vai à luta por eles, foi o que aconteceu com esse juiz, que não temia a Deus e nem respeitava homem algum, mas que diante da insistência e da teimosia da mulher, acabou cedendo e atendeu o seu desejo fazendo-lhe justiça contra seu adversário, que certamente queria ficar com seus bens. O evangelho nos mostra a qualidade da verdadeira oração, que não pode ser “imediatista” e onde se quer que Deus atenda o pedido “pra ontem”, as demoras de Deus requer do verdadeiro crente a paciência e confiança.

A oração também não deve ser uma forma de se forçar Deus a fazer a nossa vontade, realizando coisas, ou consertando certas situações que são de nossa única responsabilidade. A viúva soube unir oração e ação, com uma fé consciente e responsável, que crê, persevera, insiste, persiste, espera e vai à luta, para mudar o placar adverso Deus é a força e a teimosia do pobre pois ouve sempre seu clamor e jamais deixará de atendê-lo. Aquela fé mágica e comodista, de quem só quer vento a favor e espera sempre um milagre de Deus, sem mover uma só palha, é uma fé que nada constrói e nem agrega nessa vida: QUEM SABE FAZ A HORA, NÃO ESPERA ACONTECER!

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Costa — 29º Domingo do Tempo Comum — ANO C

“Crer em Deus, crer no homem”

Nos domingos anteriores falamos da fé num sentido mais teológico sem deixar de pensar na nossa existência concreta, diária e corrente. Hoje, essa meditação se intensifica ao concretizar-se mais. A ideia que eu quero refletir com você no dia de hoje é a seguinte: a fé é também uma grande promoção do ser humano. Ao contrário do cristão, “havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus, nem respeitava pessoa alguma” (Lc 18,2). Um filho de Deus teme a Deus e respeita a pessoa humana. Cada pessoa é imagem de Deus. Como não respeitar a imagem de quem amamos? É fácil compreender isso: quando nós guardamos uma foto de uma pessoa querida na carteira e de vez em quando damos-lhe um beijo, essa demonstração de carinho não é para com o papel, mas é a expressão do que nós gostaríamos de fazer nesse momento: dar um beijo nessa pessoa querida. Cada pessoa é “imagem e semelhança” (Gn 1,26) de Deus. Cada pessoa merece o nosso beijo reverencial. Logicamente, não vamos sair por aí beijando todo mundo, mas procuraremos sempre mostrar o nosso respeito para com os nossos semelhantes.

Sinceramente, estou convencido que o atual complô contra a vida humana, contra o matrimônio verdadeiro, contra o pudor, é consequência da falta de fé e de temor de Deus. É contraditório crer em Deus e ser a favor do aborto, por exemplo. Não! A fé em Deus não pode ser reduzida a algumas práticas de piedade semanais, ou até mesmo diárias; a fé tem que dar forma ao nosso ser, à nossa maneira de viver, de pensar, de amar, de sentir.

Deus veio à terra para que o homem subisse ao céu! Jesus veio para devolver o que nós tínhamos perdido a causa do pecado, para reconciliar-nos em todos os aspectos, para que vivêssemos na “gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8,21). Contudo, ainda o homem mais pecador é digno de respeito. A Sagrada Escritura afirma a dignidade de qualquer ser humano, independentemente das suas ações, quando, por exemplo, diz que “o Senhor pôs em Caim um sinal, para que, se alguém o encontrasse, não o matasse” (Gn 4,15); ou seja, Deus continuou protegendo a Caim, mesmo depois de ter matado o seu irmão Abel.

A fé em Deus e no que ele nos revela, numa entrega cada vez mais intensa ao seu amor, é também motor de crescimento da sociedade. Quando se retira a Deus do âmbito público se começa a dizer um montão de bobagem; na ausência de um fundamento para a convivência pacífica entre os seres humanos, começa-se a bombardear a sociedade com leis que, finalmente, ajudarão a isolar cada vez mais a pessoa e que poderiam ser reduzidas a essa máxima: não matar os demais para que os demais não nos matem. Já dizia Eurípedes que “tudo o que o tolo encerra no coração, ele o traz também impresso na cabeça e o manifesta  nas palavras”. O interessante é que todas as tolices são ditas com astúcia. João Paulo denunciava em 2002 os eufemismos que se utiliza para que o mal pareça um bem e um bem, mal. Dizia o Papa numa alocução aos Bispos da Região Leste II da CNBB: “Produz-se, portanto, uma evolução semântica onde o homicídio chama-se morte induzida, o infanticídio, aborto terapêutico e o adultério passa a ser uma simples aventura extra-matrimonial. Não havendo mais uma absoluta certeza nas questões morais, a lei divina torna-se uma proposta facultativa na oferta variegada das opiniões mais em moda”.

É evidente, mais parece que não nos damos conta. Será que estamos cegos? Desde que se insistiu no uso dos preservativos, cresceu a promiscuidade sexual; ao crescer a promiscuidade, cresceu o número de “filhos sem pais”, de pessoas com “aids”, de homossexuais, de pacientes nos hospitais e de clientes para os psiquiatras. Será que é preciso anunciar uma pasta de dentes com a foto de uma mulher sem roupa? Eu me pergunto qual é a relação entre os automóveis e as roupas íntimas. Acaso não se poderia divulgar um produto de uma maneira respeitável a toda a população. Em Itália, pelo menos, muitas mulheres já se manifestaram contra esse abuso do corpo feminino nas propagandas comerciais.

Que pena que se acusa a Igreja de retrógrada em tantos temas que, com o passar do tempo, se percebe que ela é realmente “mestra em humanidade”. Muitos países europeus que apostaram pelo controle de natalidade, são hoje países “velhos”: a população é idosa, há poucos jovens e, nalgum que outro país, até se oferece dinheiro para que os casais tenham filhos e assim o país se rejuvenesça. Estou convencido: a fé em Deus é de uma sensatez impressionante. Oxalá fizéssemos mais caso do que o Senhor nos diz e seríamos uma sociedade desenvolvida em todos os aspectos. Sem dúvida, não estou deixando de lado a justa autonomia das realidades temporais, mais tem que ser justa, ou seja, dependente do Criador.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético — 29º Domingo do Tempo Comum — ANO C
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

Epístola (2Tm 3, 14-4,2)

INTRODUÇÃO: Paulo roga a seu discípulo Timóteo a permanecer na tradição, pois é mestra da Verdade, quando recebida das verdadeiras testemunhas da mesma; de modo especial exige fidelidade às Escrituras que servem, como Verdade absoluta para múltiplas aplicações na vida cristã com consequências éticas de valores imutáveis.

A TRADIÇÃO: Porém tu permanece nas coisas que aprendeste e tendes sido assegurado, sabendo de quem as aprendestes (14). Tu vero pérmane in iis quae didicísti et crédita sunt tibi sciens a quo didíceris. PERMANECE em grego usa-se o verbo menö [<3306>=permanere] permanecer, habitar, demorar, guardar, estar firme. É neste sentido de não mudar de pensamento e intenções, que Paulo escreve a Timóteo, para não se deixar enganar pelos falsos profetas, cujas doutrinas rejeita desde o capítulo 2º desta carta. Como discípulo de Paulo, Timóteo deve saber bem quem foi seu verdadeiro mestre: Paulo, que recebeu a doutrina diretamente de Deus por inspiração do próprio Jesus (Gl 1,11-12); doutrina que foi confirmada pelos apóstolos como conforme à tradição (Gl 2, 9). O versículo é tão a favor da tradição que o comentário dos evangélicos tende a dizer que aquela não está ao mesmo nível da Escritura. Porém no ano 67 parte das Escrituras do NT ainda nem estava escrita e são as cartas de Paulo as que entram nas Escrituras como base da Revelação. Parece melhor a interpretação católica que diz ter a Escritura uma base que é a tradição. Estes versículos apelam ao ensino para distinguir falsas de verdadeiras doutrinas e o ensino depende do mestre não de um escrito, ou seja, entramos na transmissão ou tradição do que foi dito e não na leitura do que foi escrito. É a tradição que assegura [tendes sido assegurado]. Como foi Paulo assegurado pela tradição apostólica, segundo o que ele conta em Gl 2, 2 quando expôs sua doutrina [seu evangelho] aos que estavam em estima, para que de maneira alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão. Não é possível suster uma doutrina como a evangélica da interpretação particular na escolha dos escritos e na leitura dos mesmos, diante do que Paulo fez e nesta carta pede e exorta a Timóteo a repetir. Sair da tradição é encontrar a falsidade do homem e não a verdade do Cristo Jesus. Esta é a tradução RA do versículo, que confirma o que temos interpretado: Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido. De donde deduzimos que há mestres e que essa sua doutrina deve ser transmitida como verdade evangélica. O catecismo CIC diz nos parágrafos seguintes: A Igreja, à qual está confiada a transmissão e a interpretação da Revelação, não tira exclusivamente da Escritura a certeza de todo o revelado. E assim, devem ser respeitados e recebidos [os ensinamentos] com o mesmo espírito de devoção (81). Essa tradição provém dos apóstolos e transmite o que estes receberam do ensino e do exemplo de Jesus e o que aprenderam do Espírito santo. Com efeito, a primeira geração de cristãos não tinha ainda um Novo Testamento escrito e o Novo Testamento mesmo testemunha o processo da tradição viva (81).

FÉ E BÍBLIA: E porque desde menino as Sagradas Escrituras conheceste, as que têm o poder de te fazer sábio para (a) salvação através da fé, a em Cristo Jesus (15). Et quia ab infántia sacras lítteras nosti, quae te possunt instrúere ad salútem, per fidem quae est in Christo Iesu. DESDE MENINO [brefos<1025>=infantia] A palavra grega indica um feto, um recém-nascido ou um infante, um bebê, brotinho, ou seja, menor que dois anos de vida. Brefos foi a palavra que usou Isabel para dizer que a criancinha [brefos] saltou no seu ventre (Lc 1, 41). Esse mesmo nome recebe o nascido em Belém que achareis –diz o anjo-envolto em panos e deitado numa manjedoura (Lc 2, 12). Eram os meninos que traziam a Jesus para que lhes tocasse e que os impediam os discípulos (Lc 18, 15). Consequentemente devemos traduzir desde a mais tenra infância [logicamente por meio da sua mãe, única na família que era judia (At 16, 1)] conheceu as Sagradas Escrituras.

SAGRADAS ESCRITURAS [iera<2413> grammata <1121>=sacras litteras] O PODER [dynamena<1410>quae possunt] do verbo dynamai, ser capaz de, poder realizar, ter o poder de. Em hebraico Escrituras eram TaNaK, acróstico de Torah [Lei], Neviim [profetas] e Ketubim[escritos]. No início do século II constituía um conjunto de 24 livros que os cristãos chamavam de Antigo Testamento. O texto hebraico, ampliado com a tradução e os comentários em aramaico [os Targumim] era a leitura corrente nas sinagogas da atual Palestina; Mas na Diáspora, o texto era o da tradução feita ao grego dois séculos antes da nossa Era, na cidade de Alexandria. Os evangelhos, as cartas paulinas e os escritos primitivos os cristãos usam, como texto inspirado, essa tradução grega que é chamada de Septuaginta ou dos Setenta. E há textos unicamente escritos em grego, como o livro da Sabedoria e os livros dos Macabeus. Na Bíblia grega, temos unicamente dois volumes no lugar dos três da hebraica [TaNaK], que são Lei e Profetas [‘o nomos kai ‘oi profëtai] (Mt 7, 12). Tendo algumas variantes e novos livros, o texto grego é considerado como texto autêntico e, logicamente, o texto inspirado, segundo o canon da Igreja Católica. O texto da Setenta é, pois, a palavra de Deus, máxime que o texto receptus hebraico, o canon judeu, foi manipulado, rejeitando tudo o que fosse influxo grego, ou favorável à causa dos cristãos. Para se ter um exemplo, o livro do Eclesiástico, muito usado pelos cristãos, foi rejeitado como parte do Canon hebraico, que por outra parte é posterior ao uso da Escritura pela Igreja primitiva cristã. Pelo que respeita a Timóteo, grego de pai, embora sua mãe fosse judia, ele não teve outra Escritura que a grega dos Setenta, a única leitura feita na sinagoga de Listra, de onde ele era originário. Com esta recomendação, Paulo não unicamente recomenda a Escritura a Timóteo como as declara Sagradas [‘iera<2413>=sacra] ou Consagradas, que pertencem a Deus. E o que na continuação explicita é que têm como base que elas fornecem a autoridade da Verdade absoluta que unicamente a palavra de Deus pode emprestar. Esta qualidade é a da SABEDORIA, que, segundo o texto, é a de se tornar sábio [sofisai <4679>=instruere] com respeito à SALVAÇÃO [söteria<4991>=salus] POR MEIO DA FÉ em Jesus Cristo. Que quer dizer Paulo? Sem dúvida que nas Escrituras do AT encontramos suficientes razões para ver em Jesus, o Cristo, o Messias da fé. (At 2, 36).

De fato, os evangelistas, especialmente Mateus, frequentemente citam o AT para ver em Jesus cumpridas as palavras dos profetas (332 profecias). De modo que o AT foi inspirado para levar os homens para a fé em Jesus. É Jesus o centro da atuação divina no Universo: É o Jesus Cristo o mesmo ontem, e hoje e eternamente (Hb 13,8) de modo que lhe deu um nome sobre todo nome (Fp 2, 9) para ter a supremacia sobre todo principado e potestade e e potência e senhorio e todo nome que seja nomeado não só neste século mas também no vindouro (Ef 2, 48).

INSPIRADA POR DEUS: Toda Escritura (é) inspirada por Deus, e útil para ensino, para demonstração, para correção, para instrução em justiça(16). Omnis Scriptúra divínitus inspiráta útilis est ad docéndum, ad arguéndum, ad corripiéndum, ad erudiéndum in iustítia. INSPIRADA POR DEUS [theopneustos <2315>=divinitus inspirata] o é não forma parte do texto mas é implicitamente deduzido na frase para ele ter uma compreensão lógica. Podemos também traduzir por toda Escritura inspirada por Deus também é útil, etc. De todas as formas, Paulo admite que as palavras escritas e admitidas como canon pelos doutores, são palavras que têm origem na inspiração divina. É o Rema de Jahveh, ou devar Jahveh. Literalmente, Theopneutos significa respirada por Deus e indica a procedência e as qualidades de Verdade e Confiabilidade nela intrínsecas e adjacentes. Mas quais são as matérias em que a Bíblia deve ser tomada literalmente e não analógica ou circunstancialmente? Porque em matéria de ciência e história sabemos que refletem ideias e opiniões próprias da época e que delas se servem como exemplos ou midrashes para uma conclusão ética e moral? Sabemos que assim como usam uma língua hoje praticamente morta, têm um conceito do mundo que hoje a ciência superou como infantil e errôneo. Em 2005 os bispos da Inglaterra claramente interpretaram a norma de que em matéria de História e de ciência não podemos usá-la como documento infalível. A Bíblia reflete opiniões populares e contém o que eles chamam de traços históricos. Falando da História, temos os seguintes gêneros literários: a parábola sem verdade histórica; o epos histórico [história épica ou poética de uma epopeia] com só um núcleo verdadeiro; a história religiosa, própria para promover a edificação; a história antiga, segundo a opinião do povo e de uma fonte não segura como é a tradição popular, em que o mito e a lenda entram; e finalmente a narração livre, em que o autor escolhe um fato como edificante. A opinião evangélica é que quando a Bíblia fala como História, os fatos são historicamente verdadeiros; e quando fala em profecia, é profeticamente verdadeira, embora não se entenda qual é a verdade em profecia, pois teríamos no Apocalipse animais monstruosos evidentemente imaginários e não reais. É em matéria de fé e costumes que devemos encontrar a verdade divina revelada. O CIC assinala três critérios de interpretação das Escrituras: 1) Prestar uma grande atenção ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura. 2) ler a Escritura na Tradição de toda a Igreja. 3) Estar atentos à analogia da fé (112-114). Não podemos esquecer que o centro da revelação é Cristo e que Ele unifica o AT e o NT. Esta é a revelação fundamental. Como exemplo temos 332 profecias com respeito ao Messias, que se cumprem perfeitamente em Jesus (nascimento em Belém, fuga ao Egito, curas, morte na cruz, etc). A combinação dessas circunstâncias num só homem é absolutamente impressionante. É uma entre 10 elevado a 157 probabilidades. Pedro teve, junto com os dois filhos do Zebedeu, uma revelação do messiado de Jesus e não obstante ele afirma: Temos a palavra profética que nos torna mais seguros a qual fareis bem em seguir como a uma luz que alumia em lugar escuro (2Pd 1,19). ÚTIL [öfelimos<5624>=utilis] Os evangélicos traduzem öfelimos por eficaz. Porém o grego tem o significado de vantajoso, útil mais do que eficaz como querem traduzir os evangélicos (vide RA). A Vulgata realmente traduz de forma correta o termo, útil que também é o termo preferido pelas diversas versões católicas e que encontramos também na TEB. O inglês profitable é um termo duvidoso entre útil e eficaz. Tenhamos em conta que a Escritura é para um evangélico a única fonte de revelação. Para um católico ela é imprescindível, mas a sua interpretação depende da Tradição. Ou seja, esta é a base de quais os livros e como ler os mesmos, para não confundir Verdade com opinião pessoal. Daí que Igreja católica só existe uma e igrejas cristãs ou evangélicas tantas como diversas opiniões suscitaram a leitura da palavra. ENSINO [didaskalia <1319>=ad docendum] ensino, doutrina, instrução, palavra usada por Mateus em 15, 9: este povo em vão me adora ensinando doutrinas que são preceitos dos homens. Pelo que Paulo também diz que as proibições não toques, não proves, não manuseies, de coisas que perecem pelo uso, são preceitos e doutrinas dos homens (Cl 2, 21-22). De onde deduzimos que o ensino é particularmente aquele que distingue entre o humano e o divino.

DEMONSTRAÇÃO [elegchos <1650>=arguendum] prova, evidência, argumento, refutação. Segundo o que lemos em Hb 11, 1 que a fé é a prova das coisas que se não veem, a Escritura serve para provar as afirmações da fé evangélica. CORREÇÃO [epanörthosis<1882>=ad corripiendum] o grego significa restauração do estado perdido, correção, e é apax no NT, ou seja, para retificar, caso o caminho não seja o verdadeiro.

INSTRUÇÃO [paideia<3809>=ad erudiendum], em crianças, é o método de educar tanto o corpo como o espírito e em adultos, o cultivo do espírito, especialmente pelo domínio das paixões e que podemos definir como educação. E tudo, tendo como base fundamental, a JUSTIÇA [dikaiosynë<1343>=iustitia],ou seja, a retidão e honradez de costumes e que chamamos de moral cristã. Além da fé, ou verdades reveladas, ocultas à razão humana, a Igreja sempre falou da ética ou costumes necessários para os que professam a fé num Deus Pai, que transforma os homens em irmãos. É, pois, nesse sentido que devemos usar a palavra das Escrituras como última e definitiva. O Concílio Vaticano I definiu solenemente que a inspiração da Escritura e implicitamente a inerrância e infalibilidade, se estende às matérias de fé e de costumes e às partes, ao menos, de maior importância.

A PERFEIÇÃO HUMANA: Para que seja perfeito o homem de (o) Deus, para toda obra boa exercitado (17). Ut perféctus sit homo Dei ad omne opus bonum instrúctus. PERFEITO [artios<739>=perfectus] adaptado, ajustado, instalado, completo, perfeito. Talvez seja melhor falar de adaptado para toda obra boa. EXERCITADO [exërtismenos<1822>=instructus] particípio perfeito do verbo exartizö, cujo significado é completar, acabar, finalizar, cumprir, realizar. Uma outra vez aparece este vocábulo em At 21, 5 que fala de havendo completado ali aqueles dias,seguimos nosso caminho. É o homem perfeito de quem Paulo fala em Cl 1, 28 ensinando a todo homem em toda a sabedoria para que apresentemos todo homem perfeito, em Jesus Cristo.

PAULO TESTEMUNHA: Testemunho diante de (o) Deus e de Cristo Jesus o qual virá a julgar vivos e mortos e a sua epifania e o seu reino (1). Testíficor coram Deo et Iesu Christo, qui iudicatúrus est vivos et mórtuos, per advéntum ipsíus et regnum eius. TESTEMUNHO [diamartysomai<1263>=testificor] era a palavra usada para atestar uma verdade no tribunal da justiça. É uma afirmação diante das duas pessoas que eram a representação da Verdade suprema: Deus, nos céus e Cristo, na terra. JULGAR [krineiv<2919>iudicaturus] o verbo está precedido de mellontos <3195> particípio de presente do verbo mellö com o significado de estar a ponto de, por causa de intenção, dever, necessidade, probabilidade, e que pode ser traduzido por um futuro próximo também como a Vulgata traduz: iudicaturus. VIVOS [zöntas<2198>=vivos] é particípio de presente do verbo Zaö que significa viver, ou melhor, respirar, ter alento, estar em vigor. Ao acrescentar MORTOS [vekrous<3498>=mortuos] Paulo reafirma sua declaração na carta aos tessalonicenses 1, 4, 16-17: Dizemos, pois, isto pela palavra do Senhor que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor não precederemos os que dormem…. Os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro, depois nós, os que ficamos vivos, seremos arrebatados, juntamente com eles nas nuvens, ao encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Escrita a carta 30 anos após o início de sua primeira missão, Paulo ainda acreditava na iminente vinda de Cristo. É uma afirmação indireta e implícita que apela à palavra do Senhor Jesus (1 Ts 4, 15) como juiz final e universal. Os autores modernos falam de uma revelação especial dentre as muitas que Paulo teve (Gl 1, 12 ou 1Cor 15, 51). Da diferença entre os vivos, no meio dos quais Paulo acredita encontrar-se nesse dia, e os mortos é a ressurreição destes últimos e êxtases dos primeiros, arrebatados ao encontro com Cristo. Como no sermão escatológico, estas palavras devem ser tomadas da forma apocalíptica em que é difícil distinguir os símbolos da realidade concreta.

EPIFANIA [epifaneia<2015>=adventum]. Os símbolos do arcanjo, da trombeta, que Paulo usa como epifania na parousia, são comuns a todas as teofanias bíblicas, como Êx 19, 16, ou Mt 24, 31; e Paulo os emprega também em 1Cor 15, 24 para aparecer finalmente em Ap 5, 2 e 19, 17, sem que sejam realidades objetivas; mas uma demonstração de que o poder divino estará presente e será óbvia essa sua presença pelos fatos visíveis a todos os presentes, como uma possante e inusitada e em certo sentido, misteriosa intervenção de Deus, expressada com três fórmulas apocalípticas que em todas as descrições ressaltam: a voz divina, a voz do arcanjo e o som do shofar para a reunião da multidão. Ao incluir-se Paulo entre os vivos no momento dessa intervenção, não implica um fato cronológicamente seguro, pois ele afirma que ninguém sabe o tempo nem a hora (Mt 24, 36), mas se coloca na categoria dos vivos, assim como em 1Cor 6, 14 se coloca na categoria dos mortos. No discurso escatológico de Mateus (cap 24,3-31) dentro dos sinais da destruição de Jerusalém e do final dos tempos, vemos como Jesus usa um estilo e umas imagens tomadas do AT com afirmações universais que admitem uma explicação mais restrita e moderada, especialmente pelo que se refere a sinais astronômicos e catástrofes terrestres. Por outra parte, é geralmente admitido que todo o episódio e a profecia tiveram lugar na destruição de Jerusalém, e unicamente Mateus liga a mesma com o fim do mundo [melhor de uma era] (vede comentário de Manuel de Tuya O.P.). Finalmente, dirá nosso comentador, a parousia do Filho do Homem não exige uma presença física e sensível de Jesus Cristo…mas uma presença moral do mesmo no castigo de Jerusalém donde se verá seu poder;pois o anúncio feito se cumpriu. Os judeus, e Paulo era um deles, viram na destruição de Jerusalém o final de um mundo que confundiram logicamente com o final dos tempos, quando só era o final de um tempo. Nisto, como em todas as dificuldades da Escritura, devemos ter como guia o catecismo CIC. À pergunta de quando ressuscitarão os mortos, o catecismo diz no último dia, no fim dos tempos e que essa ressurreição está intimamente unida à parusia de Cristo. A ressurreição de todos os mortos “dos justos e pecadores” (At 24, 15) precederá ao Juízo final. Cristo virá em sua glória, acompanhado de todos os seus anjos. Como sempre, em toda profecia de futuros eventos os fatos são conhecidos e o profeta vê os mesmos como presentes e não distingue o tempo, que para ele é sempre próximo e atual.

DIFUNDE A PALAVRA: Anuncia a palavra, sede firme, oportuna e inoportunamente, corrige, censura, exorta em toda perseverança e doutrina (2). Praédica verbum, insta opportúne, importúne, árgue, óbsecra, íncrepa in omni patiéntia et doctrína. O versículo anterior é como a razão de porquê a insistência paulina a Timóteo de que deve ser diligente no anúncio do Evangelho que ele qualifica como um dever de anunciar, refutar e exortar e que vamos na continuação a explicar.

ANUNCIA [këryxon<2784>=praedica] overbo kërissö tem o significado de anunciar como o faz um arauto ou mensageiro no sentido de proclamar ou publicar muito mais do que a tradução vernácula de pregar, que hoje tem o sentido restritivo do predicarespanhol.

SEDE FIRME [epistëthi<2186>=insta] o verbo efistëmi significa colocar sobre, estar presente, aparecer na frente de alguém. Do sentido de estar presente, obtemos o sentido de estar firme, presente com a palavra, sem que essa firmeza seja abalada por causas externas.

CORRIGE [elegxon<1651>=argue] como verbo, o vemos tendo um maravilhoso significado de honrar, premiar ou também reprovar e desaprovar, como é o caso de censurar que vemos em Mt 16, 22 quando Pedro se opôs a Jesus e reprovou a predição de sua paixão.

REPREENDE [epitimëson<2008>=obsecra] de epitimaö, com duplo significado: honrar ou repreender. Aqui, seguindo o contexto em que todos os términos são negativos, escolheremos o significado de repreender.

CENSURA: [EXORTA [parakaleson<3870>=increpa] intimar, exigir, admoestar, encorajar, convencer, aconselhar, exortar; como nos conceitos anteriores temos a base negativa de reprimir, agora optamos pela palavra positiva em sua acepção de exortar, pois as duas palavras que indicam o objeto da atividade são do gênero positivo, como PERSEVERANÇA [makrothymia<3225>=patientia] que é a virtude de suportar adversidades e DOUTRINA [didachë < 1322> = doctrina] doutrina, ou o que é ensinado. Evidentemente, esta doutrina é o Evangelho na sua acepção paulina, ou seja, pregado aos gentios.

Evangelho (Lc 18, 1-8)

INTRODUÇÃO: O trecho de hoje é ocupado por uma parábola que o próprio Jesus explica, tendo um final um tanto fora do contexto, ao que parece. No tempo em que foi escrito o 3º evangelho, sem dúvida antes do ano 70, os cristãos estavam padecendo perseguição. Primeiramente pelos judeus, a começar pela perseguição do ano 34 [quatro anos após a condena de Jesus no ano 30] com a morte de Estêvão. Logo em 44, no reinado de Herodes Antipas, este manda decapitar Tiago e mete Pedro no cárcere. Paulo foi preso em Jerusalém no ano 58 para ser enviado a Roma no ano 60 onde foi declarado inculpado, após uma prisão domiciliar. Mas a perseguição romana começou com a expulsão dos judeus [entre os quais se encontravam cristãos, sem dúvida] feita sob as ordens de Cláudio (45 dC). Será no tempo de Nero que os cristãos, acusados injustamente de incendiar a urbe, encontrarão como inimiga a justiça romana. Calculam-se mil mártires nesta primeira perseguição. Estas primeiras perseguições eram circunstanciais e não atingiram todo o Império. Após a morte de Nero houve um período de paz de 25anos até o império de Domiciano (81-96). Esta segunda perseguição parece ter sido generalizada. Domiciano mandou matar a todos os descendentes da casa de Davi, parentes do Senhor, como afirma Hegésipo. Durante as perseguições, o clamor dos fiéis pode ser visto pelas palavras do Apocalipse (6, 9): Até quando, -clamarão os imolados por causa da palavra de Deus- ó Senhor, santo e verdadeiro, tardarás a fazer justiça, vingando nosso sangue contra os habitantes da terra? O último versículo, quando vier o filho do homem achará por ventura, fé na terra? Indica que o texto foi escrito antes do ano setenta, tempo da segunda vinda de Jesus. Mas, voltando à parábola, o começo da mesma assinala a moral da mesma, contrariamente ao que é costumeiro nas outras parábolas de Jesus. A lição é clara: se um juiz irresponsável, que não se importa com a justiça que ele deve respeitar, acaba por fazer justiça porque a viúva era persistente, quanto mais um Deus, justo e santo, atenderá os rogos constantes de seus filhos! A oração, quando autêntica, brota de uma fé viva, a expressa e a alimenta. E a palavra de Jesus alimenta essa confiança na proteção de Deus, que não despreza, melhor, admite, considera e atende nossas preces: Pedi, e vos será dado (Mt 7,7). Sendo a oração tema especial de Lucas, vemos no final um ex-abrupto, que nos introduz através da fé, na vinda segunda de Cristo. O versículo 8 conecta bem com 17, 37, fim do discurso sobre o dia do Filho do Homem. Possivelmente podemos unir ambos os trechos, e considerar que os clamores dos cristãos perseguidos serão ouvidos plenamente por quem não é um juiz prevaricador, mas um Pai que protege seus filhos.

A PARÁBOLA: Dizia-lhes, pois, também uma parábola por ser necessário sempre orar e não esmorecer(1). Dicebat autem et parabolam ad illos quoniam oportet semper orare et non deficere. Como foi dito no parágrafo anterior, a oração é para obter do Pai a proteção e a justiça contra os inimigos do cristianismo que atuavam contra a propagação e o livre exercício do mesmo, como vemos, se iniciou nos tempos de S. Estêvão (ano 34) e que foi uma constante na pregação do apóstolo Paulo (do ano 46 em diante). Aos cristãos ou discípulos do Caminho, nome primitivo da Cristandade, não restava outra alternativa a não ser a oração. E esta parecia demorar em obter seus frutos. Daí a conveniência da parábola que chamamos do juiz iníquo, mas que propriamente deveria ter o título da viúva perseverante. Porque foram essas orações para que chegasse a hora da ira e o momento de dar a recompensa a teus servos e profetas aos santos que veneram teu nome, pequenos e grandes, e de exterminar os que destruíam a terra (Ap 11, 8).

O JUIZ: Dizendo: Havia certo juiz numa cidade, não temente a Deus, nem respeitoso de homem algum (2). Dicens iudex quidam erat in quadam civitate qui Deum non timebat et hominem non verebatur. A palavra juiz é Shefat <08199>em hebraico e em grego Kritës<2939>. Temos também a palavra grega dikaste [daí dicastério] um termo que indica um magistrado, um oficial de justiça, termo mais elaborado do que krites. Os rabinos louvavam junto a coroa da realeza e a coroa do sacerdócio, a coroa da Lei que pode alcançar todo israelita e confere sua força às outras duas coroas. Eram os rabinos que determinavam a Lei e seus doutores – os escribas- tinham a capacidade de atar e desatar, dando uma coisa por proibida e outra por permitida (Ver Mt 16, 19). Os antigos israelitas, no Egito, tinham suas lideranças de tribo, os chamados Anciãos, os que Moisés reuniu em nome de Javé (Êx 3, 16). No deserto, existiam os príncipes das tribos (Nm 7,2) e na Palestina os famosos Juízes, que em nome de Javé protegeram os israelitas até o profeta Samuel, como enviados pelo Senhor (At 13, 20). No livro de Daniel temos dois anciãos que eram juízes a quem a assembleia creu por serem anciãos do povo e juízes (13, 42). Nos tempos de Jesus, existiam tribunais superiores ou sinédrios em cinco circunscrições da Palestina. Entre eles o principal era o grande Sinédrio ou Sanedrim [=assembleia] de Jerusalém constituído por 70 ou 72 membros dos quais alguns eram permanentes por cargo executivo, os chamados grandes sacerdotes ou chefes dos sacerdotes. O archiereus grego significa príncipe ou chefe de sacerdotes. Além do Sumo sacerdote em ofício, neste grupo se incluíam os que já foram tais e os chefes do templo, como eram o chefe da guarda, tesoureiros etc. Parece-me que o archiereus está mal traduzido por Sumo Sacerdote, como vemos nas leituras bíblicas da missa. Nos textos se fala que Jesus será julgado pelos chefes sacerdotais [sic na bíblia de Jerusalém], os anciãos e os escribas (Lc 9, 22). Porém parece que em cada cidade existiam os Dayan <01761>, termo que indica um assessor de um tribunal rabínico ou pessoa encarregada de pronunciar a sentença num julgamento. Enquanto o rabino geralmente decide sobre questões de natureza religiosa, o dayan julga assuntos econômicos e resolve problemas de Direito Civil. Só que em muitos povoados e aldeias ambos os ofícios recaiam sobre a mesma pessoa, especialmente porque a lei civil não se distinguia, na época, da lei religiosa ou Torah, minuciosamente explicada pelas normas da tradição ou Mishná. Seria, pois um destes dayan que impedia que a justiça fosse aplicada no caso da viúva. Mas era um homem que não temia a Deus e não respeitava homem algum. Flávio Josefo ao falar do rei Joaquim, dirá que não respeitava a Deus nem era atento com seus semelhantes. O nosso dayan era, pois, um juiz corrupto de quem não se podia esperar maior justiça da que proporciona a corrupção.

A VIÚVA : Havia, porém, uma viúva naquela cidade e vinha a ele dizendo: Vinga-me de meu rival (3). Vidua autem quaedam erat in civitate illa etveniebat ad eum dicens vindica me de adversario meo. A palavra almanah<0490> em hebraico tinha o mesmo significado que o grego chera <5503>, era logicamente a mulher que tinha perdido por morte o marido. Sai o nome pela primeira vez em Gn 38, 11 quando Tamar recebe o encargo de voltar à casa de seu pai, o dono após a morte do primeiro dono, que era seu marido. Como Javé não faz acepção de pessoas e não aceita suborno, ele é o que faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e roupa (Dt 10, 18). Por isso ouve seu clamor mandando que não sejam afligidos, pois caso sejam afligidos, ele escutará seu clamor (Ex 22,21). Ele sustenta o órfão e a viúva e protege o estrangeiro (Sl 146, 9). Pai dos órfãos e justiceiro das viúvas (Sl 68, 6). Deixa os teus órfãos eu os farei viver e que as viúvas confiem em mim (Jr 49, 11). Por isso, no final do AT Javé expressa a sua preocupação para com as viúvas. Eu serei uma testemunha rápida contra os que oprimem o assalariado, a viúva, o órfão e que violam o direito do estrangeiro (Ml 3, 5). Uma viúva tinha certos direitos restringidos, como não poder casar com um sacerdote (Lv 21,14) para não profanar a descendência deste último. A razão da proteção especial divina era porque as viúvas, geralmente idosas, tinham poucos recursos, sendo fáceis presas de pessoas inescrupulosas. A maneira de tratar as viúvas era um indicador da moralidade da época. Por isso, Jó foi acusado por Elifaz de maltratar as viúvas, pois seus problemas só podiam provir de uma conduta pecaminosa (Jó 22,9). A opressão das viúvas tornou-se um exemplo comum de maldade entre os homens (Sl 94, 6). Por isso, viúva era o símbolo de uma cidade abandonada e destruída pela guerra, como resultado de um juízo divino contrário (Is 47, 8). Assim Jesus optou como exemplo de desamparo e injustiça uma viúva, a quem os juízes da época, como eram os legistas fariseus, tiravam os poucos bens (Mt 23, 14). Jesus, de modo especial, já que sua mãe era viúva, tinha um carinho especial para com elas. Uma viúva foi seu modelo de desprendimento (Mc 12, 42) e outra de compaixão, e, sem ser rogado, ressuscitou o filho, para que a viúva de Naim tivesse alguém que a sustentasse, (Lc 7, 12). Ficamos, pois com a ideia de que uma viúva era facilmente maltratada pela justiça humana. Se a isso acrescentamos que o juiz era sem escrúpulos, corrupto ou imoral, o pano está perfeito para a comparação. Uma mulher, no AT, não tinha direitos legais. Seus direitos estavam na mão do pai, ou do esposo, se casada. As viúvas careciam de proteção e de direitos. Daí que os profetas invocassem o Senhor, como protetor das mesmas. Visitar os órfãos e viúvas em suas necessidades é parte da verdadeira religião (Tg 1, 27). VINGA-ME: É assim como devemos traduzir o grego ekdikeo. A justiça particular é chamada vingança e a pública defesa. No tempo de Jesus, a vingança, o olho por olho, era a razão da condena. A viúva pedia sem dúvida uma condena que poderíamos chamar de vingança ou desforra. Geralmente pensamos em termos monetários ou de bens, como sendo a justiça que a viúva pedia. Pessoalmente creio que era mais questão de justiça penal. Por isso o juiz não estava interessado, pois o dinheiro move os corações infelizmente e a compaixão não entra nos tribunais. O adversário, antidikos grego, nada diz à respeito do caso. Unicamente sabemos que era oponente dela.

O VEREDITO: E não quis por um tempo; porém, entre estas coisas, disse para si mesmo: Se, pois a Deus não temo e ao homem não respeito (4), porém, porque esta viúva me causa desgosto, a vingarei para que, por fim, chegando não me afronte(5). Et nolebat per multum tempus post haec autem dixit intra se et si Deum non timeo nec hominem revereor tamen quia molesta est mihi haec vidua vindicabo illam ne in novissimo veniens suggillet me. Durante muito tempo não quis fazer justiça, mas depois pensou e disse para si : Não temo a Deus nem respeito a opinião dos homens, mas esta viúva está me trazendo problemas insuportáveis; que não me aconteça seja esbofeteado no final. A vulgata traduz ypönpiazö<5299> bastante literalmente por suggillo que significa encher de golpes, como um boxeador que recebe uma verdadeira saraivada de pancadas. Metaforicamente significa encher a cara. Em linguagem vulgar, diríamos para que não me encha. Por fim é o eis telos, o in novíssimo [no último] latino que podemos traduzir por finalmente. Ou seja, o juiz a atende por sua importunidade que não o deixa em paz.

CONCLUSÃO: Disse pois o Senhor: Escutai o que o juiz da maldade diz (6). (o) Deus pois, não fará a vingança dos seus escolhidos os que clamam a Ele dia e noite e que têm sofrido pacientemente (os acontecimentos) sobre eles(7)? Ait autem Dominus audite quid iudex iniquitatis dicit Deus autem non faciet vindictam electorum suorum clamantium ad se die ac nocte et patientiam habebit in illis. A observação do Senhor é para esta última reflexão do juiz irresponsável, a quem chama de juiz da iniquidade. Esta é uma das poucas vezes em que Jesus de Nazaré recebe o nome de Senhor, título que ele adquiriu após a ressurreição. A tradução de Javé em grego pelos setenta é Kyrios nome dado a Jesus, o Cristo, reconhecendo sem a menor dúvida uma indiscutível condição divina. No mesmo sentido que o Deus do AT, Jesus é Senhor dos senhores, Senhor dos vivos e mortos, Senhor da glória, Senhor do universo. E dirige sua atenção com um argumento a fortiori ou a minori ad maius: Compara o juiz que deve fazer justiça a uma viúva, com Deus que deve fazer justiça a seus escolhidos. Se ela recorria frequentemente ao juiz, estes últimos clamavam dia e noite, ou seja, sem interrupção, pelos acontecimentos que estavam sofrendo. Na realidade, o grego tem uma sintaxe rara, difícil de interpretar. Terá, pois, Deus que esperar muito para que essa justiça seja feita? A conclusão era que essa justiça será feita em breve. Como indicávamos no início do comentário, a perseguição, especialmente a originada pelos dirigentes judeus, era motivo de aflição na primitiva Igreja e, daí o clamor para que a justiça divina interviesse em seu favor. Isso é uma amostra da antiguidade do evangelho de Lucas. Esperava-se a segunda vinda de Cristo como juiz para resolver a questão.

A ÚLTIMA REFLEXÃO: Digo-vos que fará a vossa vingança em breve. Aliás, chegando o Filho do Homem, acaso encontrará a fé sobre a terra?(8). Dico vobis quia cito faciet vindictam illorum verumtamen Filius hominis veniens putas inveniet fidem in terra. Mas quando vier o Filho do Homem, ainda encontrará fé na terra? A expressão Filho do Homem designa em princípio um membro da comunidade humana, especialmente enquanto ser mortal e fraco. Mas no livro de Daniel se transforma numa figura simbólica que representa o povo dos santos de Deus (cap 7) em sua glória final. Concentrada em seu chefe, a expressão Filho do Homem adquire um valor estritamente individual, glorioso e transcendente. Nos evangelhos aparece setenta vezes, sempre na boca de Jesus, pois sintetiza em sua pessoa, tanto a humanidade pela sua paixão, como a divindade, esta última pela ressurreição e seu poder de triunfo total, julgando seus inimigos. Algumas vezes está no lugar do eu, como substituto em português da expressão a gente. Sem dúvida que aqui o significado é o do Messias triunfante para o último julgamento, talvez em termos locais, restringido a uma determinada etnia, num lugar e de um povo especial: o povo hebreu. A palavra terra que aqui aparece está no lugar de terra prometida, terra [eretz em hebraico e gës em grego] que Javé entregou a seu povo escolhido como promessa dada aos patriarcas (Gn 12, 7). A Palestina era “a Terra” para um judeu, que se considerava expatriado fora dela, como o é, atualmente. A terra era a Eretz que constituía o templo em que Javé morava com seu povo, templo não construído por mãos humanas, mas escolhido por Deus para que seu povo o habitasse em paz, na prosperidade. Junto com o sábado e a Torá, era o tripé sobre o qual se assentava a ordem social do povo escolhido. É, pois, nesta terra especial que Jesus afirma ser duvidosa a fé dos moradores. Como reconhecem os autores modernos, toda esta perícope está relacionada com a parusia; uma parusia que não pode tardar porque os eleitos, os filhos do Reino, estão pedindo justiça diante da repressão da parte de seus inimigos. Esta parusia deu-se no ano 70 com a destruição do templo e a dispersão do povo de Israel. A fé [pistis grega] tem além do significado de convicção profunda de que Jesus tem o poder e a vontade de salvar, no sentido mais amplo possível, um outro matiz: a da entrega incondicional do discípulo à pessoa de Jesus. Esta fé constitui a base do discipulado. Portanto, a pergunta de Jesus pode ser traduzida nestes termos: Será que eu ao vir para julgar a terra, dada por Deus ao povo escolhido, encontrarei discípulos meus habitando nela? A resposta histórica, centrada no ano 70, é não; pois os cristãos tinham fugido e refugiaram-se na Transjordânia.

PISTAS:

1) A interpretação da parábola pode ser localista: uma viúva, uma causa particular de indivíduos que buscam uma solução para seus problemas íntimos. Como se cada cristão escutasse a parábola como dita para sua própria edificação. A intenção da parábola é toda tomada do primeiro versículo: A necessidade de orar sempre. Tudo mais parece simples ornamentação ou explicação. Porém, não é esta a interpretação mais admitida hoje.

2) A pergunta que podemos fazer é por que Jesus toma como exemplo uma viúva, a mais indigente dentro do poder do mundo antigo. É pura casualidade ou a escolha tanto da viúva como do juiz iníquo são escolhas voluntariamente arranjadas para transformar uma parábola em alegoria? Acreditamos que sim. A viúva representa a primitiva comunidade cristã, indefesa e frágil, diante dos dois poderes que a perseguiam: o judeu e o romano. Como temos narrado antes, o primeiro foi o iniciador da perseguição. Imediatamente após a morte de Jesus, os discípulos foram perseguidos. Quatro anos após a paixão, foi morto Estêvão. Saulo, o futuro Paulo, perseguia os cristãos já nos anos seguintes. Estamos, pois, num clima em que os gritos dos perseguidos clamavam justiça exatamente como descreverá o Apocalipse durante a perseguição de Domiciano. (vide supra e Ap 6,9). A resposta a este clamor intenso e perturbador é a da parábola: Deus demorará em fazer justiça, fazendo ouvidos surdos ao clamor de seus eleitos?

3) Existem porém algumas perguntas: por que Deus permite essa injustiça e essas perseguições? Quando o bem derrotará definitivamente o mal? É uma luta demorada e contínua? As respostas podem ser as que Jó encontrou dentro de sua inocência e ignorância: *Só Deus pode dar a resposta. *Porém existem sempre algumas pistas que podemos contemplar. Quando não existe contradição, o espírito humano se relaxa na vida cômoda e perde a pureza das intenções. A perseguição é uma purificação, uma volta ao primitivo espírito evangélico. Por isso é necessária para manter viva a fé, purificar o amor e suscitar, sobretudo a esperança. O mal já foi derrotado na cruz. Ele está vivendo a sua última agonia. Ele não subsistirá como força atuante na outra vida para os que escolheram o bem, mas será a seiva vital para os que o abraçarem como intenção de seu agir. Porém o abismo que separará os bons dos maus impedirá que o mal atue sobre os que gozam da visão divina. Já a luta na terra será contínua até o dia do Senhor, dia do triunfo, da vitória final do bem com a condenação eterna do mal.


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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09.10.2016
28º Domingo do Tempo Comum — ANO C
( Verde, Glória, Creio – IV Semana do Saltério )
__ Uma exigência da fé: viver sempre em contínuo agradecimento __

EVANGELHO DOMINICAL EM DESTAQUE

APRESENTAÇÃO ESPECIAL DA LITURGIA DESTE DOMINGO
FEITA PELA NOSSA IRMÃ MARINEVES JESUS DE LIMA
VÍDEO NO YOUTUBE
APRESENTAÇÃO POWERPOINT

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Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Nossas comunidades são um espaço onde o Deus da vida se manifesta. Não nos reunimos para “pagar graças”, e sim para celebrar o Deus que dá gratuitamente a vida para todos. A gratidão, embora todos a queiram, poucos a manifestam com sinceridade. Ela é um ornamento da humildade. Por isso, o senso de gratidão revela o interior do ser humano, tendo como elemento importante para sua vivência a fé o amor. A ausência do senso de gratidão é, evidente manifestação de egoísmo e de incapacidade de perceber como Deus age em favor do ser humano necessitado.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, a Igreja, reunida em nome do Senhor, dá graças e bendiz o Pai doador de todos os dons e de todas as bênçãos. Na sua infinita misericórdia, o Pai enviou seu Filho em missão para nos libertar, nos curar e nos salvar. A cada dia experimentamos a ação de Deus que nos salva e nos tira da morte, por seu Filho amado, o Cristo Senhor. Elevemos, pois, a Deus nosso hino de louvor e de ação de graças e, na oferta do seu Filho, ofereçamos a nós mesmos como ofertas vivas e agradáveis a Deus.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Como Jesus curou os que recorreram ao seu poder, hoje também ele transforma as nossas vidas, curando e libertando das enfermidades e desvios. Neste mês missionário, reforcemos nossa convicção de que todos os cristãos devem ser anunciadores desta verdade, de forma que a Igreja esteja sempre em constante estado de missão. Conscientes de que a salvação vem pela fé na pessoa e na obra de Jesus, reforcemos, no Ano da Fé, nossa adesão a Cristo. E comemorando o Dia do Professor, no próximo sábado, rezemos pela valorização dos professores que trabalham no Ensino e lutemos por uma educação de qualidade e acessível a todos.

Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (2 Reis 5, 14-17): - "Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel!"

SALMO RESPONSORIAL 97(98): - "O Senhor fez conhecer a salvação e às nações revelou sua justiça."

SEGUNDA LEITURA (2 Timóteo 2,8-13): - "Merece fé esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos."

EVANGELHO (Lucas 17,11-19): - "Levanta-te e vai! Tua fé te salvou."



Homilia do Diácono José da Cruz — 28º Domingo do Tempo Comum — ANO C

De novo Israel perde para um estrangeiro...

Mateus, que escreve para os Judeus, não provocaria dessa maneira seus leitores, mas estamos diante de Lucas, para quem Jesus é o Salvador e a oferece gratuitamente a todos os homens. Por isso o personagem em evidência é novamente um estrangeiro, um Samaritano, mal visto pelos Judeus, considerado impuro e que por isso mesmo jamais iria ser salvo, uma vez que não tinha acesso aos ritos de purificação e expiação dos pecados. A palavra “Estrangeiro” com a qual Jesus se refere ao Samaritano nos induz a pensar que os outros nove eram Judeus. Por que será que não voltaram?

A primeira leitura nos dá uma dica importante quando Naamã, ao ver-se curado totalmente da lepra, como predissera Eliseu que o mandou mergulhar sete vezes no rio Jordão, ele quer de alguma forma retribuir ao profeta com presentes, que Eliseu recusa veementemente. Naamã professa uma fé maravilhosa mas se vê na obrigação de “dar algo em troca da cura”. O judeu pensa a mesma coisa “Deus faz, mas eu preciso dar algo, eu preciso merecer, com minhas boas ações, rituais, holocaustos e a prática da Lei. Eis aí porque os outros não voltaram, pensavam assim: se foram curados,  é porque mereceram aquela ação Divina a seu favor e agora o mais importante a fazer era apresentar-se diante do Sacerdote do templo, que iria homologar a cura” .Depois certamente iriam procurar Jesus para agradecê-lo. Mas o Samaritano não pensa assim, para ele, a sua cura não está em nível institucional, mas físico e espiritual. Cura de lepra, por aquele tempo, era algo fantástico, que somente o Poder Divino poderia fazê-lo. Lepra significava pecado, e a Instituição apenas separava os “Impuros”   dos  “puros” , os pecadores dos que estavam salvos. Era a religião altamente excludente!

Compreender a Graça como Dom realmente gratuito não é nada fácil, até mesmo para nós,pois,  quando alguém de nossas relações, recebe algum ganho ou benefício, seja ele material ou espiritual, logo dizemos “Você merece!”. Por que será que Deus atende a alguns, cura esses, e não cura aqueles? Parece que atende mais a oração de alguém em especial. Isso me lembra “Súplica Cearense” onde a certa altura da música, a letra diz “Desculpe, eu não rezei direito o Senhor me perdoe, eu acho que a culpa foi, deste pobre que não sabe fazer oração”. Existirá uma fórmula certa para se rezar? O Segredo está no mais íntimo do ser humano, quando percebemos Deus e a sua Graça agindo em nossas entranhas, somos impelidos a louvá-lo, manifestando assim nossa gratidão.

O Samaritano deixa que o coração fale mais alto, não há nada com que possa retribuir aquela cura, que para ele, diferente do modo de pensar dos outros nove, era imerecida! Só Deus poderia manifestar um amor tão grande, gratuito e incondicional, por isso ele volta e se prostra aos pés de Jesus, reconhecendo o seu messianismo, possivelmente disposto a tornar-se um seguidor. Os outros nove como já o dissemos anteriormente, também viriam agradecê-lo, mas certamente não iriam se prostrar, pois a Ação Divina estava no templo e no sacerdote, que para eles estava acima de qualquer coisa.

Não coloquemos a Instituição, nossas virtudes e labutas pastorais, como uma paga á Deus pelos inúmeros benefícios que Ele nos concede no dia a dia. Antes, sintamos a alegria da sua Graça presente em nós, e que é muito maior que nossos pecados e limitações. Gratidão e louvor que expressamos em nossas liturgias, por esse Deus manifestado em Jesus, e que nos ama do jeito que somos agora. Dando abertura a essa Graça, como aquele Samaritano, sentiremos sempre uma alegria inexplicável, que um dia se tornará plena, quando o Reio de Deus for manifestado á toda a Humanidade!

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Costa — 28º Domingo do Tempo Comum — ANO C

“Justificados pela fé”

Na semana passada, refletimos sobre a fé. Gostaria de continuar com o mesmo tema, mas dessa vez desde outra perspectiva. O que acontece é que eu também, como você, escutei na passagem do Evangelho oferecido pela liturgia de hoje o seguinte: “Levanta-te a tua fé te salvou” (Lc 17,10). Ou seja, a fé salva!

Martinho Lutero foi um sacerdote agostiniano alemão que viveu no século XVI, homem de grande inteligência e de uma fina sensibilidade. Atormentado pelos seus escrúpulos de consciência e sentindo-se oprimido pelas normas da religião, passou por uma experiência que mudaria a sua vida. Leu Rm 1,17: “o justo viverá da fé”. Lutero entendeu que bastaria a fé, somente a fé, para salvar-se; as obras não contariam para nada nesse processo de salvação. A partir daquele momento, seria clássico o tripé luterano: Sola fides! Sola gratia! Sola Scriptura! A tradução é fácil: Somente a fé! Somente a graça! Somente a Bíblia! Com exclusão das obras, do esforço ascético e da Tradição da Igreja. Logicamente, a partir daquele momento, Lutero já não se sentia ligado à autoridade da Igreja Católica para interpretar a Sagrada Escritura. Curiosamente, parece que Lutero não leu muito bem o seguinte capítulo da Carta aos Romanos que, entre outras coisas, nos diz que Deus “retribuirá a cada um segundo as suas obras” (Rm 2,6), nem tampouco o que escreveu o mesmo Apóstolo aos gálatas: que a fé “opera pela caridade” (Gl 5,6).

Enfim, o Concilio de Trento teve que tratar dessa questão e fê-lo magistralmente no ano 1547. O fruto daquela Sessão VI do Concilio foi o valiosíssimo Decreto sobre a justificação. É interessante observar que, desde o começo, o Concilio não se preocupou em dar uma interpretação imediata a uma passagem concreta, como poderia ser Rm 1,17, mas primeiramente quis conhecer profundamente o que significa ser justificado, ser justo, o que quer dizer “justificação”. Depois de deixar claro até que ponto chegou o drama do ser humano – pecador, imundo, separado de Deus, com uma vontade e uma liberdade enfermas, incapaz de salvar-se a si mesmo –, nos explica que a salvação nos vem de Jesus Cristo. Ele nos salvou, mas cada de um nós tem que deixar-se lavar pelo seu sangue purificador. Finalmente, o Concilio nos diz que a justificação não é somente remissão dos pecados, mas também santificação e renovação do homem interior pela voluntária recepção da graças e dos dons. E qual é o papel da fé na justificação já que a Escritura afirma que o somos justificados pela fé (cfr. Rm 1,17; 3,28)? O Concilio interpreta essas palavras da Escritura com outras: “sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb 11,6). Ser justificado pela fé, ser salvado e santificado pela fé, significa que para ser justo diante de Deus é preciso antes crer que ele existe e que é a causa da nossa santificação. Com efeito, como estar inserido em Cristo se não cremos nele e se não permitimos, livremente, que ele entre nas nossas vidas? Deus é muito cortês, se nós não permitimos que ele entre na nossa casa, ele não entrará, mas continuará insistindo.

“Levanta-te a tua fé te salvou” (Lc 17,10). Abracemos cada vez mais a salvação doada por Cristo a cada um de nós, mas não nos esqueçamos de que é importante voltar para agradecer com obras e na verdade. Aquele samaritano, que antes era leproso como os outros, quis percorrer o caminho de volta para agradecer a Jesus pessoalmente prostrando-se aos seus pés. A sua fé foi acompanhada por umas quantas obras que mereceram um elogio e uma exclamação de Jesus: “Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?!” (Lc 17,18). Agradeçamos ao Senhor “opere et veritate”, com obras e na verdade, pois, salvados em Cristo Jesus, “esforçai-vos quanto possível por unir à vossa fé a virtude, à virtude a ciência, à ciência a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade o amor fraterno, e ao amor fraterno a caridade. (…) Portanto, irmãos, cuidai cada vez mais em assegurar a vossa vocação e eleição” (2 Pd 1,5-10). Sim, a nossa fé nos salvou, mas é preciso continuar cuidando – por uma vida santa – essa salvação para que aumente em nós e para que um dia seja eterna e vejamos, face a face, a Deus Pai e Filho e Espírito Santo.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético — 28º Domingo do Tempo Comum — ANO C
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (2 Tm 2,8-13)

INTRODUÇÃO: Paulo exorta Timóteo a ser fiel à palavra do evangelho, que em Jesus vê o Cristo Ressuscitado. Paulo espera que seus sofrimentos por ter sido ministro dessa palavra, sejam a causa de sua glória com Cristo; pois declara que compadecer com Cristo é a base de ser glorificado com Ele. E finaliza dizendo que apesar de sermos desleais, Ele nunca pode ser igual a nós, pois não pode se negar a si mesmo. Logo sua palavra permanece imutável e nela devemos confiar.

JESUS CRISTO: Lembra-te de Jesus Cristo, tendo sido levantado dentre os mortos, da semente de Davi, segundo o meu evangelho (8). Memor esto Iesum Christum resurrexisse a mortuis ex semine David secundum evangelium meum. LEMBRA-TE: O judaísmo era uma religião de lembranças, que tinha suas festas como recordação dos fatos, em que a mão de Jahveh foi vista claramente em favor de seu povo eleito. Tal é a Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos. Era também uma religião de testemunhas, pois os profetas recebiam as visões e palavras de Jahveh como declarações e atestados em que o povo devia acreditar para a sua salvação. Assim mesmo o cristianismo é uma religião de memórias, a começar pela Eucaristia [fazei isto em minha memória], de fatos em que o amor divino se manifestou de modo insuperável em contra do ódio satânico como na cruz; e sua onipotência triunfou sobre o poder supremo da morte com a ressurreição. Também é uma religião de testemunhos em que visões e revelações têm existido em todos os tempos, inclusive nos mais próximos, como Paray le Monial, Lourdes e Fátima para citar os últimos, aceitos pela Igreja universal. Deus não é um Deus longínquo, mas próximo do homem, que se revela e se apresenta em formas que o homem pode ver e das quais ser testemunha a outros homens. A memória, pois, da revelação e dos fatos experimentados constitui a base da fé e Paulo acentua de modo especial a da Ressurreição como alvo derradeiro da vida: Se Cristo ressuscitou, nós também poderemos ressuscitar com Ele, pois se a morte entrou por um homem, também por um homem a ressurreição dos mortos (1 Cor 15, 21). E como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo (1 Cor 15, 22). LEVANTADO: Assim o fato principal, do qual a memória tem sido a base testemunhal fundamental, é a Ressurreição de Cristo. De maneira que se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé e ainda permanecemos em nossos pecados (1 Cor 15,17). Nada de estranho que Paulo lembrasse a Timóteo desse fato essencial. Ao traduzir em passiva o verbo egeirö [<1453>=surgere], a tradução seria ser levantado o que implica a ação divina na ressurreição de Jesus. SEMENTE: [sperma <4690>=semen] é a semente de uma planta; também o sêmen viril que, segundo o pensar antigo, era como uma semente que continha o novo ser, semeado no ventre materno que fazia ocasião de terra fértil até o nascimento. Daí que seja também prole ou descendência, como é no caso atual. É a palavra usada por Lucas em 1, 55: como falou a nossos pais, para  Abraão e sua posteridade [spermati] para sempre.

ACORRENTADO: No qual estou padecendo até correntes como um malfeitor; mas a palavra de (o) Deus não está acorrentada (9). In quo laboro usque ad vincula quasi male operans sed verbum Dei non est alligatum. CORRENTES [desmoi<1199>=vincula] Uma das testemunhas fundamentais da ressurreição de Cristo era Paulo. Sua autenticidade e veracidade tinham uma base facilmente verificável: as correntes que todo preso especial carregava como testemunho de sua culpabilidade. De Pedro lemos em At 12, 6-7 que estava preso com duas cadeias, que à vista do anjo cairam-lhe das mãos. O latim vincula como o grego desmoi significa ligações, e em particular, em plural, significa prisão ou cárcere, pois nestes casos as ligações eram cadeias ou correntes de ferro [em grego alusis<254>=catena] que nas mãos se traduz por algemas e nos pés no plural por grilhões e em grego pedë [<3976>=compedes]. Temos o exemplo de At 16, 24: Paulo estava sujeito aos pés por um cepo de madeira [seguros os pés no madeiro é a tradução literal]. Num mundo em que o preso era encerrado com duas correntes que amarravam as mãos à parede e por vezes com um cepo nos pés numa cela sem luz, tudo por pensar que o detento era culpado até que se provasse sua inocência, o carcereiro tomava todas as precauções para que o preso não pudesse se soltar; pois a falha condenava o carcereiro a uma morte extremamente dolorosa e humilhante. Foi por isso que, o carcereiro de Paulo em Filipos tentou se matar ao ver as portas do xadrez abertas e pensar que os presos tinham escapado  (At 16, 27). Que Paulo estava encadeado o sabemos por 2 Tm 1, 16 : O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes me recreou e não se envergonhou das minhas cadeias [alusin]. A PALAVRA [o logos<3056>=verbum] com artigo, pode significar a segunda pessoa da Trindade, segundo João 1, 1; mas no NT em geral, é a palavra de Deus, testemunhada pelos apóstolos e escrita nos evangelhos. Essa palavra é agora também lida nos evangelhos e interpretada e testemunhada pelos novos sucessores dos apóstolos, Papa,  bispos em comunhão e fiéis em observância. Essa palavra não está acorrentada, e por isso, hoje a Igreja tem o direito e dever de iluminar com a verdade revelada, o Cristo (Jo 14, 6), o destino final do homem e a felicidade e modo de viver para obter a mesma na terra. Existem na Igreja duas maneiras de evangelizar: ministerial e carismática. A tradição se complementa com a ação do Espírito que age com poder [sobrenatural] como afirma Paulo. Porém a pergunta essencial de todo homem é não tanto o para que, mas o para quem. Daí que Paulo explica o porquê de sua prisão: a palavra não pode estar acorrentada, embora seus propagadores o sejam.

A SALVAÇÃO: Por isso, todas as coisas suporto, por causa dos escolhidos, a fim de que também eles obtenham a salvação, a de em Cristo Jesus com glória sem fim (10). Ideo omnia sustineo propter electos ut et ipsi salutem consequantur quae est in Christo Iesu cum gloria caelesti. SUPORTO [ypomenö<5278>=sustineo] do grego significa permanecer, continuar, tolerar, suportar, aguentar. É neste sentido de tolerar, padecer e sofrer sem se render, que Paulo usa o verbo. E a razão é a SALVAÇÃO [söteria<4991>=salus]. A tradução de söteria é libertação, resgate, salvação, especialmente do inimigo, por uma ação de terceira pessoa. O inimigo é o pecado e o seu instigador o diabo. A Escritura descreve quatro diferentes modos de salvação do pecado: da pena, do poder, da presença e do prazer. A moderna Teologia toma a libertação como um ato de salvação de condições materiais escravizantes. A Teologia tradicional coloca o inimigo no pecado. É verdade que temos em Lucas, capítulo 1, no cântico de Zacarias ambas as interpretações: 1) A salvação dos inimigos materiais no versículo 69: levantou uma força [corno no original] de salvação [söterias] na casa de e Davi, seu servo, inimigos que declara no versículo 71: salvação [söterian] de todos os nossos inimigos e da mão e todos os que nos odeiam. 2) E a salvação espiritual do pecado no versículo 77: Para dar ao seu povo conhecimento da salvação [söterias], na remissão dos seus pecados. Em todos os casos, a tradução latina de söteria é salus,tis, de onde se origina a palavra salvação. Já em Paulo unicamente encontramos a palavra söteria com o significado de remissão dos pecados através da redenção [lytron<3083> ou apolytrösis<629>] (1 Tm 2, 6) que é o preço do sangue de Jesus em resgate nas palavras de Jesus: o filho do homem não veio para ser servido mas para servir e dar sua vida em resgate [lytron] de muitos (Mt 20, 28). A única diferença é que Paulo emprega apolutrösis no lugar de lytron. E a mais clara citação sobre a redenção [apolytrösis] é Ef 1, 7: Em quem [Jesus] temos a redenção [apolytrösin] pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo a riqueza da sua graça. Ideia que repete em Cl 1, 14, de modo que não podemos afirmar seja um apax casualmente encontrado em Efésios. Sem, pois, rejeitar a ideia do AT de uma salvação de inimigos materiais, a verdadeira redenção é a salvação dos pecados mediante o sangue de Jesus na cruz, fato confirmado por Lucas o escrevente do seu evangelho em 22, 20: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós, que Mateus afirmará para remissão dos pecados (26, 23). GLÓRIA SEM FIM [doxës<1391> aiöviou<166>=gloria coelesti]. Doxa é o esplendor, magnificência e majestade divinas, das quais seremos partícipes, os salvados pelo sangue de Jesus. Essa glória será sem fim, palavra que tem a mesma raiz que aei [sempre] de modo que a tradução seja glória sempiterna, ou seja, definitiva, sem fim.

UM CÂNTICO: Fiel a palavra: Se, pois, morremos com ele também viveremos com ele (11). Fidelis sermo nam si conmortui sumus et convivemus. Parece que Paulo cita um velho hino cristão que se inicia com a frase seguinte, que acompanha a palavra. MORREMOS é o primeiro versículo. A palavra morrer com Cristo tem dois significados; 1º) Comum a todos os cristãos como é ilustrado em Rm 6, 3-5: todos  quantos fomos batizados em Cristo fomos batizados na sua morte, de sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte…porque se fomos plantados juntamente com ele na semelhança de sua morte, também o seremos na da sua ressurreição. 2º) O martírio que é provavelmente o significado com o qual Paulo apresenta o hino, pois ele estava numa situação em que seu testemunho era vital e que ele afirmaria mais tarde com a sua própria morte.

SEGUNDO VERSÍCULO: Se suportamos, também reinaremos com ele; se negamos, também ele nos negará (12). Si sustinemus et conregnabimus si negabimus et ille negabit nos. SUPORTAR [ypomenö  <5278>= sustinere] permanecer, ficar, tolerar, suportar, aguentar, esperar, resistir, manter-se firme, padecer, aguentar, sofrer com perseverança. Este último significado é o que melhor se acomoda às circunstâncias em que Paulo escreve a sua carta. O sofrimento de uma prisão romana era particularmente grave: sem luz, sem movimento, acorrentado às paredes da minúscula cela, malcheirosa e fria, como dá a entender ao pedir a capa (4, 13). O sofrimento é causa de mérito, pois o Reino é a resposta dEle, como indicou nas bemaventuranças (Mt 5, 10-12). NEGAR [arneomai<720>=negare] negar, abjurar, rechaçar, recusar, renegar. Também Jesus o afirmava: Qualquer que me negar diante dos homens eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus (Mt 10, 33).

FINAL: Se não somos fiéis, ele permanece fiel: não pode negar-se a si mesmo (13). Si sustinemus et conregnabimus si negabimus et ille negabit nos. INFIEL [apisteö<569>=não credere] com o significado de trair a confiança, infiel, não acreditar. Não é o mesmo negar que ser infiel. Pedro negou e os outros apóstolos foram infiéis.  A negação está no testemunho de boca; a infidelidade, na conduta imprópria e na covardia de quem cala ante a maldade, que é contrária à bondade para a qual fomos escolhidos. É o pecado de todo aquele que for contrário à máxima que diz ama o próximo e tenta fazer agradável a vida do mesmo. A vida verdadeira –cuja consequência é a vida eterna- só se logra lutando por fazer profunda e limpamente o bem aos outros. NEGAR-SE [arnësasthai<720>=negare se], Deus não pode negar-se a si mesmo: Ele é puro amor, entrega, sem ódios nem rejeições. Isso implica que Deus sempre será fiel como vemos em (Rm 3, 3): Se alguns foram incrédulos, a sua incredulidade aniquilará a fidelidade de Deus? Estas palavras nos lembram a parábola do filho pródigo. O pai abandonado não deixa de esperar a volta do pródigo e o recebe em triunfo, como se nada tivesse acontecido. Essa fidelidade divina é a essência de sua natureza. Deus é sempre fiel. Deus é sempre Amor. Porém é o homem que voluntariamente se separa de Deus. É o homem que quer controlar Deus e ter assim o poder de frear sua justiça quando se separa da ordem estabelecida. O homem que pensa que Deus é só Pai e, portanto não existe o castigo, esquece que o maior castigo é o da consciência, juiz que obriga o culpado a não aceitar o amor do pai e rejeitar a misericórdia do ofendido, como vemos em Judas, após sua traição. Pelo contrário, nunca melhor vivemos, mais felizes, que quando a consciência está tranquila. O Inferno existe e é escolhido voluntariamente pelos que não querem admitir o amor como supremo dirigente de suas vidas. Seremos julgados [nos julgaremos a nós mesmos] pelo que temos sido capazes de amar, não pelo que nos tenham amado os outros e especialmente o Outro que é Deus, cujo amor [e perdão] é definitivamente rejeitado. Realmente a condenação, segundo esta norma substancial, não depende de Deus, mas de nossa conduta errada e consciência culpável. Um exemplo: Pode ser perdoado um ladrão que se nega a devolver o roubado? A quem ajudará a justiça divina: ao ladrão, por ser pai, ou ao espoliado, por ser justo? Poderá amar mais o ladrão que o injustamente privado dos seus bens? Nossa conduta não é indiferente à sua justiça; porque o amor não pode se opor ao injustamente ofendido. Sempre a conduta humana tem consequências que implicam a justiça pelo mal feito ao próximo.

EVANGELHO (Lc 17, 11-19)
OS DEZ LEPROSOS

INTRODUÇÃO: Os milagres de Jesus são sinais da presença salvadora do Reino de Deus e parte integrante da boa nova que o Cristo anunciou com suas palavras e confirmou com suas obras. A limpeza dos leprosos, além do fato em si, tem um simbolismo extra: Jesus não cura unicamente os corpos, mas limpa de impurezas as almas, fato que no caso nosso aponta o sacramento da reconciliação por intermédio do sacerdote. Ao mesmo tempo que Jesus cumpre a lei do Levítico, exige a fé dos doentes, que devem abandonar sua aldeia, para se dirigir a Jerusalém. Jesus sente o agradecimento do samaritano, ao mesmo tempo que nota, com certa amargura, a falta de reconhecimento por parte dos outros nove que eram galileus. Jesus expressa, como homem, um sentimento que poderíamos encontrar em Deus, ao contemplar muitas condutas humanas que vivem esquecendo os muitos e grandes benefícios recebidos do alto.

DE CAMINHO: Então sucedeu ao caminhar ele para Jerusalém que também ele passava pelo meio da Samaria e da Galileia(11). Et factum est dum iret in Hierusalem transiebat per mediam Samariam et Galilaeam. AO CAMINHAR: É a terceira vez que, nesta parte do seu evangelho, Lucas cita, como circunstância temporal e geográfica, Jerusalém (9, 51; 13, 22 e esta de hoje). É o ambiente de viagem para seu último destino que dirige os atos e as palavras do grande Mestre, segundo a forma de relato escolhido pelo evangelista. Parece, como se quisesse pintar a vida humana de Deus, dependendo do seu último destino, que é um sacrifício final, não sem antes fazer o bem e se mostrar como mestre único da verdade e da solidariedade. TAMBÉM ELE: A frase é um pouco misteriosa. Provavelmente se refere à rota comum que os peregrinos usavam para se trasladar do Norte até Jerusalém, no Sul. PELO MEIO DA SAMARIA E DA GALILEIA: Como alguns autores declaram, a frase é um caso típico da inaptidão geográfica de Lucas. A tradução da vulgata per médium Samariam et Galilaeam é a escolhida pela VA evangélica. A não ser que o grego seja usado de forma irregular e pudéssemos traduzir através da Galileia e da Samaria (nessa ordem) ou atravessando a Samaria e a Galileia, e não pelo meio delas na ordem em que as encontramos no texto grego, como se a Samaria estivesse mais afastada de Jerusalém do que a Galileia. A geografia não é tema dominado por Lucas. O texto português moderno traduz: passava entre a Samaria e a Galileia. Das diferentes bíblias somente três: a latino-americana, a francesa e a inglesa  traduzem pelos confins [frontieres [Fr] ou border [Ing]} entre, a Samaria e a Galileia. Supostamente, a menção imprecisa entre as duas regiões só serve para justificar a presença do personagem principal entre os leprosos, ou seja, a daquele que era samaritano, cuja presença só poderia ser possível por estar Jesus passando entre os limites de ambos os territórios.

OS DEZ LEPROSOS: E,  entrando Ele numa vila, saíram ao seu encontro dez homens leprosos os quais plantaram-se de longe(12). Et cum ingrederetur quoddam castellum occurrerunt ei decem viri leprosi qui steterunt a longe. A LEPRA: Não podemos logicamente obter da escritura e dos evangelhos uma definição, nem mesmo uma descrição, tão acurada como as atuais, da doença de pele, que tanto discriminava os enfermos nas sociedades antigas. A doença era um castigo tanto social como religioso. Ela é descrita nos capítulos 13 e 14 do livro do Levítico. Seu nome hebraico   tsaraat<06883>[3014 lepra] serve para designar afecções impuras. Este termo foi traduzido por lepra, ou seu equivalente, nos diferentes idiomas, apesar de não ser possível afirmar, com certeza, o seu significado preciso no texto original. Naturalmente, em virtude da falta de meios para um diagnóstico exato, eram provavelmente chamados leprosos, não apenas os portadores da hanseníase, mas também portadores de outras doenças crônicas de pele, muitas das quais, com certeza, não seriam menos contagiosas para o que hoje chamamos de leucodermia [pele branca]. Também existia a palavra      parah <06509>que podemos traduzir por surgir uma erupção. Outrossim, encontramos a palavra negah <05061> significando surto, erupção ou praga (Lv 13, 12). Pois não existia uma clara ideia do que era a lepra. A sua descrição, a impureza a ela subsequente e o rito de sua cura com os sacrifícios correspondentes, estão descritos no Levítico nos capítulos 13 e 14. Quem distinguia entre lepra e outra dermatose mais ou menos grave, como herpes e até a tinha, era o sacerdote. Era um exame experimental. Se se formar na pele um dartro [tipo de herpes] ou uma mancha e, no lugar enfermo, o pelo se tornar branco e a enfermidade se tornar mais profunda na pele, o sacerdote declarará a doença como lepra (Lv 13, 3). Em caso de dúvida, o doente deveria permanecer em quarentena de sete a quatorze dias, que podia ser repetido até ter certeza da natureza da doença.  Mas se o sacerdote declarasse que a doença era lepra, o doente era declarado impuro. Deveria, portanto, morar fora do acampamento ou da aldeia, rasgar suas vestes, soltar seus cabelos, ou seja, sem os cobrir e, no entanto, cobrir o bigode e gritar impuro cada vez que alguém se aproximasse. A impureza era devida principalmente às úlceras que se formavam. O rito de purificação, caso fosse declarado puro o sujeito, antes leproso, exigia duas aves, madeira de cedro, púrpura carmesim  e hissopo. (Lv 14, 4). Temos visto no domingo do pobre Lázaro, como existiam duas classes de púrpura: a violácea, a mais cara, e a carmesim ou escarlata. O hissopo era uma planta ou arbusto de até 60 cm de altura de folhas aromáticas. Vários pequenos galhos juntos serviam para aspergir sangue ou água nos ritos religiosos. Atualmente usa-se com o mesmo nome um instrumento de metal com buracos na parte oposta do mango que serve para sugar água benta e aspergir com ela objetos e pessoas. O rito da purificação do leproso era espetacular e parece que estava em vigor no tempo de Jesus desde a época da construção do tabernáculo no deserto. LEPROSOS CÉLEBRES: O primeiro foi Moisés a quem Javé mandou por a mão no peito e ao retirá-la apareceu como coberta de neve, para depois reintroduzi-la e ficar normal de novo (Ex 4, 6-7). Outro caso memorável foi o de Miriam, irmã de Moisés, que, como castigo por sua murmuração, teve que se isolar por sete dias até conseguir a cura por intercessão de seu irmão (Nm 12, 10). Leproso era Naamã o sírio que foi curado por Eliseu (2 Rs 5) e Giezi,  tornado leproso por sua avareza (2 Rs 5); e leproso era Simeão, hospedeiro de Jesus (Mt 26, 6). Mateus no cap 8 e Marcos no cap 1, narram a cura de um leproso. Já o relato de hoje, em número e circunstâncias, é próprio de Lucas. A LEPRA HOJE:  O nome científico é Hanseníase. A doença era própria da Índia e da África. Os gregos a chamavam de Elefantíase e o termo lepra foi introduzido por Hipócrates como doença com lesões escamosas entre as quais podem estar a psoríase e os eczemas crônicos. Durante a idade Média  a hanseníase prevalecia na Europa e no Oriente Médio. No Concílio de Lião (1245) estabeleceram-se regras para lidar com a profilaxia [medidas de prevenção] da doença: Isolar o doente da população sadia. Na França, o isolamento era precedido de um ofício religioso semelhante ao ofício dos mortos, após o qual o leproso era excluído da comunidade. O doente era obrigado a usar vestimentas características que o identificavam como portador da doença e fazer soar uma sineta ou matraca para avisar a gente sadia de sua doença. Data também da idade Média (Séc XIII) a criação das primeiras associações religiosas, dedicadas a prestar cuidados aos doentes de hanseníase. Essas associações foram responsáveis pela criação de centenas de asilos para abrigar os acometidos pela doença. Nesse século cerca de 19 mil leprosários existiam no continente. A partir do século XVII foram desativados muitos desses asilos de modo que por volta de 1870 a hanseníase já havia praticamente desaparecido em quase todos os países com a exceção da Noruega onde ainda podia ser considerada endêmica [permanente]. Mantinha-se, porém inalterada na Ásia e na África e tornou-se gradativamente endêmica na América Latina. No Brasil foi em 1600 que se notificaram os primeiros casos no Rio de Janeiro, onde anos mais tarde seria criado o primeiro Lazareto. Sem tratamento eficiente e sendo uma enfermidade contagiosa, o doente era considerado como uma cultura ambulante da doença e, portanto, uma ameaça à sociedade. Assim como não se deixam cadáveres insepultos, não se devem deixar leprosos desamparados. Era-lhes, pois, permitido viver em asilos e até serem recolhidos em cadeias públicas. Pensemos na ilha de Molokai em que só entravam os leprosos e dos quais foi apóstolo o Pe. Damião. Na década de 40 do século XX, com a descoberta da Sulfona, mudou o tratamento, e o isolamento passou a ser seletivo. Outros dois remédios, Clofazimina, nos anos 60, e Rifampicina,  nos anos 70, trouxeram a cura, muito embora o tratamento demorasse 5 anos. Hoje em dia, o tratamento com PQT [poliquimioterapia] demora apenas um dia, seis meses, ou doze meses e o diagnóstico precoce permite que mais de 90% dos pacientes não apresentem nenhuma sequela. Atualmente, na primeira dose de tratamento, 99% dos bacilos são eliminados e não há mais chance de contaminação. O microbacilo de Hansen ataca normalmente a pele, os olhos e os nervos. A doença é também conhecida como moreia, mal-de-Lázaro ou mal-do-sangue. Não é uma doença hereditária. As vias de transmissão são pelas vias aéreas. Porém a infecção dificilmente acontece depois de um simples encontro social. O contato deve ser íntimo e frequente. A maioria das pessoas é resistente ao bacilo e de 7 doentes apenas um oferece risco de contaminação. De 8 pessoas em contato com o paciente, apenas 2 contraem a doença e desses 2, um torna-se infetante. Ela se apresenta sob duas formas. O tratamento do tipo paucibalar [poucos bacilos] é mais rápido: basta uma dose mensal [um coquetel], além da ingestão de um comprimido diário durante 6 meses. Do tipo multibacilar [muitos bacilos] o tempo para o tratamento é mais longo: são 12 doses uma por mês e a ingestão de dois remédios diários durante 2 anos. A maioria da população adulta é resistente à hanseníase, mas as crianças são mais susceptíveis, geralmente adquirindo a doença quando há um paciente contaminante na família. O período de incubação varia de 2 a 7 anos, e entre os fatores predisponentes estão o baixo nível econômico, a desnutrição e a superpopulação doméstica. Por isso ainda tem grande incidência nos países subdesenvolvidos. A hanseníase tem 4 formas de se apresentar: Indeterminada, como forma inicial que evolui espontaneamente para a cura na maioria dos casos e para outras formas da doença em 25% dos mesmos. Geralmente encontra-se apenas uma lesão de cor mais clara que a pele normal, com diminuição da sensibilidade. Mais comum em crianças. Tuberculoide: Forma mais benigna e localizada, ocorre em pessoas com alta resistência ao bacilo. As lesões são poucas [ou única] de limites bem definidos e um pouco elevados e com ausência de sensibilidade [dormência]. Ocorrem alterações nos nervos próximos à lesão, podendo causar dor, fraqueza e atrofia muscular. Dimorfa: forma intermediária que é resultado de uma imunidade também intermediária. O número de lesões é maior, formando manchas que podem atingir grandes áreas da pele, envolvendo parte da pele sadia. O acometimento dos nervos é mais extenso. Lepromatose: Nestes casos, a imunidade é nula e o bacilo se multiplica muito, levando a um quadro mais grave, com anestesia dos pés e mãos que favorecem os traumatismos e feridas que podem causar deformidades, atrofia muscular, inchaço das pernas e surgimento de lesões elevadas na pele [nódulos]. Órgãos internos também são acometidos pela doença. A IMPUREZA: A lepra não era tão temida como doença, mas por ser causa de marginalidade total na sociedade antiga. Na realidade, a impureza que a acompanhava por causa das chagas purulentas era absoluta. Segundo o modo de pensar do AT, o sangue derramado era uma das fontes de impureza. O sangue não podia ser derramado porque era considerado como base da vida, que pertencia diretamente a Deus; daí que o contato com o sangue tinha um sentido religioso como se fosse um  relacionamento íntimo com a divindade, dona da vida. A perda do sangue era considerada como perda de vitalidade, a qual deve ser restabelecida através de certos ritos alcançando sua integridade para se unir com o Deus, fonte da vida. As leis da impureza estão no Levítico entre os capítulos 11 a 15. Existem animais impuros no capítulo 11; há uma impureza de nascimento no capítulo 12; fala-se da impureza da lepra nos capítulos 13 e 14 e a menstruação merece um capítulo à parte como é o 15. A impureza de um leproso durava toda a vida e o leproso deveria ser mandado fora do acampamento pois no meio do povo só habitava o Senhor (Lv 15, 31). A razão para essa lei era a santidade divina que podia ser maculada por certas ações entre as quais as principais eram a idolatria e o derramamento de sangue, especialmente de inocentes como eram as crianças oferecidas aos deuses ou Baals (Sl 106, 38). A impureza legal, especialmente se ligada com o exercício sacerdotal, tomou conta da impureza interior ou pecado, de modo que este último não fosse mais considerado na sua intencionalidade interna, sendo que toda a lei e seu cumprimento estavam em evitar a impureza externa da qual os fariseus fugiam como essencialmente contagiante. O pecado estava também unido à miséria física e econômica (Jo 9, 2). Não somente o leproso era considerado impuro, de modo que deveria ser afastado e morar à parte; mas também os vestidos cobertos de mofo eram considerados como tendo lepra e deveriam ser considerados impuros. Também o mofo ou bolor das casas as tornava impuras e sujeitas à inspeção do sacerdote como eram as pessoas (Lv 14, 33 ss).

O GRITO: Então eles elevaram a voz dizendo: Jesus, senhor, tende piedade de nós (13). Et levaverunt vocem dicentes Iesu praeceptor miserere nostri. Segundo a lei, o leproso não podia ter contato com as pessoas sãs, e devia chamar a atenção das mesmas gritando: impuro, impuro. O grito indica que estavam longe e deviam elevar a voz para serem escutados. SENHOR: A palavra é   epistatës [<1988>=praeceptor], que significa presidente, ou seja, superior, amo, dono, chefe, comandante, e que temos traduzido por senhor. O inglês tem máster [dono, amo] que é a tradução mais apropriada da palavra grega. Na linguagem atual seria Doutor, vocábulo com o qual é reconhecida a superioridade do interlocutor. Eles sabem que Jesus tem o poder de cura. Por isso eles pedem que olhe para eles com compaixão.

A RESPOSTA DE JESUS: E tendo visto, disse-lhes: marchando, apresentai-vos aos sacerdotes, e sucedeu ao irem eles, foram curados. A CURA: Não foi imediata como quando disse ao leproso: quero, fica limpo (Mt 8,3), mas respeitando as regras da lei, mandou que fossem aos sacerdotes para que estes os declarassem curados. A reação dos leprosos foi diferente da de Naamã, que resistiu em obedecer; os nossos doentes seguiram a ordem de Jesus e, no caminho, é que eles se sentiram curados. O SACERDOTE: Como temos visto a impureza, que tem como razão o derramamento do sangue, liga a lepra ao sentido religioso e por isso era o sacerdote quem deveria declarar sua existência, da qual dependia a vida social do indivíduo. Por isso a reintegração do leproso deveria ser feita com um sacrifício semelhante ao sacrifício pelo pecado (Lv 14, 1-31. 49-53), pois era um atentado à virtude vivificante do Deus de Israel. O rito de purificação abrangia detalhes que hoje parecem ridículos, mas que, sem dúvida, tinham seu significado nos costumes da época. Um detalhe importante é que assim como na purificação do dia do Yom Kippur um dos dois bodes do sacrifício era deixado no deserto para o demônio Azazel que com esse bode recebia as impurezas do povo, também havia dois pássaros na purificação do leproso e um deles era solto após receber a infusão do sangue do pássaro sacrificado. Assim ele levaria a impureza longe do povo e do doente. Uma questão à parte é por que Jesus, neste caso, não cura de imediato, mas manda respeitar a lei que nos outros casos não impõe. Talvez seja pelo número dos enfermos que se curados de imediato, seria um fato tão notável que poderia meter em uma enrascada o messiado de Jesus. Assim, longe das turbas e de toda comoção social, os leprosos são curados enquanto se dirigiam a Jerusalém.

O AGRADECIDO: Um, pois, dentre eles, tendo visto que fora curado, voltou com grande voz louvando a(o) Deus(15). Unus autem ex illis ut vidit quia mundatus est regressus est cum magna voce magnificans Deum. Um samaritano [único ou havia mais da mesma etnia?] foi  o único que voltou dando graças a Deus, como veremos no parágrafo seguinte. O nome de Deus era El, muitas vezes usado no plural Elohim, e que receberá segundo situações determinadas diversos atributos como El-Elyon= Deus Altíssimo (Gn 14, 22). El-Roi=Deus da visão (Gn 16, 13), El Shadai= Deus da montanha (Gn 17, 1), El-Olam= Deus eterno (Gn 31, 33), El- Betel=Deus de Betel (Gn 35, 7); mas, sem dúvida, o NOME [Hashem ou Hashem Yitbarah, nome oculto] era o de JAVÉ [YHWH] (Êx 3, 13) que na língua hebraica é traduzido por o Eterno e que alguns modernos traduzem por o que existe, o vivente e daí o verdadeiro, o único. Os setenta traduziram por Ego eimi ho on= eu sou o é [o que existe]. O apocalipse dirá: Aquele que é, aquele que era Aquele que vem, o Todo-poderoso (Ap 1,8). Este Deus era a quem o samaritano dava glória com grandes vozes. Sabia muito bem que um homem não podia realizar semelhante cura e que, se ela se fazia através da ordem de um homem, era porque o tal falava em nome de Deus, era sua voz, seu profeta.

O SAMARITANO: E caiu sobre o rosto aos pés dEle dando-lhe  graças. E o tal era samaritano(16). Et cecidit in faciem ante pedes eius gratias agens et hic erat Samaritanus. Ao chegar a Jesus, prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus. É a proskynesis, forma de submissão ao rei oriental. O Grande, Rei dos persas, que Alexandre o Grande quis exigir depois de seu regresso da Índia em 324 aC para ser reconhecido como deus. Jesus é, pois homenageado como Rei, no mínimo (Mt 2,2) e talvez como representante de Deus (Jo 4, 20) e intermediário da ação divina. Deu-lhe graças. É a única passagem dos evangelhos em que a ação-de-graças (eucharisteuo) é dada a Jesus e não a Deus. O estrangeiro, como Jesus o chama para evitar o sobrenome de samaritano que era um insulto porque era sinônimo de herege, louva a Deus por sua cura e agradece a Jesus, causa próxima da mesma, venerando-o como um profeta do Altíssimo, e representante do poder deste último na terra.

A QUEIXA: Tendo respondido Jesus disse: não foram limpos os dez? Os nove, pois, onde (estão)?(17). Não foram encontrados (sic) os que regressaram para dar glória a(o ) Deus senão este estrangeiro?(18). Respondens autem Iesus dixit nonne decem mundati sunt et novem ubi sunt. Non est inventus qui rediret et daret gloriam Deo nisi hic alienígena. A queixa de Jesus é causada pela repercussão de unicamente contemplar, como curado, um dos dez. Implicitamente Ele afirma que também os ausentes foram limpos da lepra. E logo claramente afirma que dar glória a Deus é agradecer sua pessoa. Esta parte é a nossa função principal como cristãos ou discípulos de Jesus. Adorá-lo no verdadeiro sentido de ver nEle a divindade, é a maior glória que uma criatura humana pode dar ao Deus único. O versículo 18 é um tanto incorreto em grego e temos deixado assim mesmo a tradução literal. Ao Deus: sempre que se referem a YHVH os evangelistas usam o grego Theos <2316>  com artigo determinado, para distingui-lo dos outros deuses pagãos.

A FÉ: E disse-lhe: Levanta, vai embora: tua fé te salvou (19). Et ait illi surge vade quia fides tua te salvum fecit. O grego muito propriamente usa o levanta em aoristo e o vai em presente para indicar uma ação passada pontual e a outra atual contínua. A fé: É importante observar como todos os evangelistas apresentam a fé como um requisito antes da cura. Mutatis mutandis podemos dizer que é também o requisito para a salvação da alma. O maior e talvez único obséquio que o homem pode oferecer ao Deus que deseja salvá-lo é a fé, a entrega, com plena confiança, nas mãos que o podem ajudar como confia um filho na bondade do pai. Nada temos a oferecer a um Deus absolutamente pleno que nada necessita; mas deixamos que Ele atue livremente em nós: é aí onde estão coincidindo as duas liberdades: a do homem que confia plenamente e se entrega, e a de Deus que atua com total permissão. A obediência dos leprosos à palavra de Jesus consegue a cura; mas aparentemente, sua falta de agradecimento os desvia de quem foi seu salvador. Em Jesus, o samaritano, infiel e herege segundo os judeus, encontrou o Deus verdadeiro e o seu representante na terra. Daí a proskynesis como fez o cego a quem Jesus pediu fé em sua pessoa: Crês no Filho do Homem? (Jo 9, 38). Por isso dirá Jesus ao samaritano: Tua fé te salvou (19). Há, pois um contraste entre cura e salvação que o mundo atual não percebe, porque os bens imediatos, embora não sejam tudo, são os únicos que interessam e preocupam a maioria.  E uma vez obtidos estes, não nos preocupamos com a salvação, que é a posse de Jesus como fim de nossas vidas.

PISTAS:

1) Os marginalizados se aproximam de Jesus. Apesar de sua total culpabilidade perante Deus e os homens, eles têm esperança. Sua cura dependia daquele Mestre [epistates= chefe, ou líder], de quem tinham ouvido falar como grande médico e curandeiro. O seu grito pode ser também o nosso, quando a esperança só tem como base a bondade divina: eleeson ymas, compadece-te de nós. Como pensamos que Deus vê nossas vidas? Limpos e puros ou tão terrivelmente marcados pelo mal que parecemos monstruosos leprosos cheios de imundície? Somos diante de Deus malditos e assim se tornou seu Filho, não unicamente maldito, mas maldição para nos salvar (Gl 3, 13).

2) O ponto de partida para a ação divina é a súplica. Jesus não os busca. São eles que o buscam, que sabem que Jesus tem poder para curar. O resto é um mandato: conformem-se com a lei se é que querem viver em sociedade de novo. Naamã foi mandado a se lavar no Jordão. Os dez leprosos foram enviados para o sacerdote. Nada há de anormal ou extraordinário em ambas as ocasiões. É a obediência que atrai a ação de Deus e transforma o homem em seu filho amado no qual encontra satisfação (Mt , 17).

3) O agradecimento é essencial nas relações com Deus. Todos nós somos semelhantes aos nove leprosos curados. Incapazes de uma súplica que não seja uma petição de ajuda. Uma vez obtida a mesma, esquecemos o louvor, o elogio, a ação-de-graças. Nossa religiosidade tem muito de magia, de oportunismo, de interesse, de ingratidão. Conformamo-nos com o nosso bem-estar e esquecemos o muito que temos recebido como dom e como presente. O pouco mal que nos atinge não nos permite enxergar o muito de bem que nos rodeia. Por isso, a queixa é mais abundante do que o louvor.

4) Por esse egoísmo próprio de quem só olha seu próprio bem, esquecemos que os bens são fruto de uma dádiva divina. Nos servimos de Deus, não servimos a Deus. E a melhor maneira de servi-lo é agradecê-lo e obedecê-lo. Esquecemos que os bens, agora possuídos, são uma simples amostra do que nos espera se a gratidão tomar conta de nossas vidas. O canto às misericórdias de Deus nesta vida é só o começo do canto sem fim que será o modus vivendi na eternidade. Desde já devemos aprender a recitá-lo, caso queiramos vivê-lo como experiência existencial.

5) Não temos lepra que nos separa socialmente, mas a Aids, etnia, e pobreza, marginalizam muita gente neste mundo, que se gloria de sua globalização. Quem não tem ouvido falar dos ciganos, dos negros, dos indígenas? E eles não são contagiosos, o contágio, pelo contrário, é a ideia de que existem classes e diferenças.


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!

Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".

( Salmos )

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